Os estudantes do ensino superior preferem ler em formato digital do que em papel, lendo mais textos online em redes sociais do que nos sites noticiosos, segundo um estudo piloto apresentado esta terça-feira.
Uma equipa de investigadores levou a cabo um projeto que pretendia conhecer os "Hábitos de Leitura dos Estudantes do Ensino Superior", mas num universo de quase 180 mil alunos de universidades e institutos politécnicos portugueses, responderam apenas 1.982 estudantes de nove universidades.
"Estes resultados não são representativos dos hábitos de leitura", salientou Filomena Oliveira, sub-diretora geral da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC), explicando que o estudo hoje apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian acaba por ser apenas um "exercício piloto", apelando a "um maior envolvimento das Instituições de Ensino Superior" (IES) nos próximos estudos.
Apesar de não se poder extrapolar, mais de 90% dos inquiridos disseram ter hábitos de leitura sem fins académicos, lendo livros, jornais, revistas ou textos online.
"Entre as quatro modalidades de leitura possível, os textos online são os mais lidos (74%) e as revistas as menos escolhidas" (33%), contou Filomena Oliveira, acrescentando que os alunos usam sobretudo meios digitais (mais de 70%), sendo o papel a opção mais apontada para querem ler um livro.
É nas redes sociais que os alunos mais procuram textos "online" para ler (81%) mas também procuram informação em sites noticiosos (78%).
Entre as redes sociais, o estudo aponta o Instagram como a mais procurada (82%), seguindo-se o X (ex-Twitter) e o Facebook, acrescentou a diretora-geral da DGEEC.
Metade dos alunos disse ler jornais, mas os sinais dos tempos mostram que a maioria (61%) já prefere o formato digital e apenas 7% ainda prefere o papel.
O inquérito quis saber também se os alunos liam as bibliografias académicas e concluiu que 29% leva as recomendações a sério, mas muitos (23%) ignoram as sugestões dos professores e nunca leram qualquer bibliografia.
Entre os obstáculos à leitura das bibliografias, aparece a falta de tempo mas também "o nível de dificuldade dos textos", sublinhou Filomena Oliveira.
As bibliotecas das instituições são espaços poucos usados, com menos de 30% dos alunos a usá-las e, na maioria dos casos, apenas para fazer trabalhos ou estudar.
A apresentação do estudo contou com a presença da comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, do secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, e da coordenadora do estudo e professora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo, que também criticou a dedicação das IES neste projeto, salientando apenas "honrosas exceções".
Além do pouco interesse mostrado pelas IES, Cristina Robalo apontou também os efeitos da pandemia e o tema do inquérito -- focado nos "hábitos de leitura" - como motivos para dificultar a recolha de dados.