Israel atacou esta quarta-feira a UNICEF e a ONU Mulheres, acusando as agências de se aliarem sistematicamente ao grupo islamita Hamas e de ignorarem o sofrimento ou os dados sobre as vítimas fornecidos pelas autoridades israelitas.
Perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, o embaixador israelita, Gilad Erdan, usou um tom tão agressivo ao referir-se às duas agências e às suas respetivas diretoras - Catherine Russell da UNICEF e Sima Bahous da ONU Mulheres - que o embaixador chinês e moderador do debate, Zhang Jun, interrompeu o seu discurso e exortou-o a mostrar o "devido respeito" pelas duas líderes.
Erdan, que reapareceu com uma estrela amarela no peito - numa referência ao símbolo cujo uso foi imposto aos judeus pelo regime nazi da Alemanha -, respondeu com ataques às intervenções de Russell e Bahous, que perante o Conselho sublinharam o grave impacto que a guerra de Gaza está a ter nas mulheres e crianças palestinianas.
O embaixador israelita chegou ao ponto de dizer que "a UNICEF não se preocupa com as crianças de Gaza, e a ONU Mulheres não se preocupa com as mulheres de Gaza porque, caso contrário, não teriam ficado caladas durante os 16 anos em que o Hamas tem governado" o enclave, período em que - segundo as suas palavras - o Hamas tem subjugado as mulheres e utilizado-as como escudos humanos.
"Cada agência da ONU defende apenas os palestinianos, ao mesmo tempo que desumaniza Israel. Esta é a política da ONU", insistiu Erdan, que no passado também criticou o secretário-geral da organização, António Guterres.
Erdan chegou mesmo a dizer que a reunião desta quarta-feira do Conselho de Segurança "não foi uma sessão, mas sim uma inquisição" contra o seu país.
"Como pode ser isso? Como pode esta sessão ser tão tendenciosa? Quando todos vocês sabem que Israel faz tudo o que está ao seu alcance para mitigar as vítimas civis, enquanto o Hamas faz tudo o que pode para assassinar civis, tanto israelitas quanto de Gaza", disse.
Relativamente à trégua humanitária acordada para facilitar a troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos -- priorizando mulheres e crianças em ambos os casos -- Erdan prometeu que esta pausa será curta e a guerra continuará.
"Não se enganem", disse o diplomata aos membros do Conselho, "assim que esta pausa terminar, continuaremos a lutar pelos nossos objetivos com força total e não pararemos até eliminarmos todas as capacidades terroristas (do Hamas) e garantirmos que não podem voltar a governar Gaza ou ameaçar os civis de Israel, nem as mulheres e crianças de Gaza".
Na reunião do Conselho de Segurança, a UNICEF afirmou que Gaza é o "lugar mais perigoso do mundo para se ser criança", frisando que cerca de 115 menores foram mortos diariamente no enclave em 46 dias de guerra entre Israel e o Hamas.
"Mais de 5.300 crianças palestinianas terão sido mortas em apenas 46 dias... ou mais de 115 por dia, todos os dias, durante semanas e semanas. Com base nestes números, as crianças são responsáveis por 40% das mortes em Gaza. Isto é sem precedentes. Por outras palavras, a Faixa de Gaza é o lugar mais perigoso do mundo para ser criança", disse Catherine Russell.
Já Sima Bahous declarou que duas mães são mortas a cada hora em Gaza e sete mulheres a cada duas horas.
Além disso, Bahous sublinhou que 180 mulheres dão à luz todos os dias sem água ou analgésicos, sem anestesia para cesarianas ou eletricidade para incubadoras e tratamentos médicos.
"As mulheres em Gaza disseram-nos que rezam pela paz, mas que se a paz não chegar, rezam por uma morte rápida, enquanto dormem, com os filhos nos braços. Deveria envergonhar-nos a todos que qualquer mãe, em qualquer lugar, fizesse tal oração", disse a diretora da ONU Mulheres.