O conflito na Ucrânia está a pressionar todo o sistema humanitário e poderá ter efeitos duradouros na capacidade de resposta das organizações de assistência em todo o mundo, avisou esta terça-feira a Cruz Vermelha.
A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, que entra no seu sétimo mês na próxima quarta-feira, empurrou as pessoas "para um ponto crítico de rutura", afirmou o presidente da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC), Francesco Rocca, numa declaração.
"Os efeitos de choque devastadores estão a aumentar à medida que o conflito continua, com a subida dos preços dos alimentos e da energia e o agravamento das crises alimentares", acrescentou Rocca.
Segundo a diretora regional da IFRC para a Europa e para a Ásia Central, Birgitte Bischoff Ebbesen, numa conferência de imprensa online, "a crise espalhou-se por todo o sistema humanitário e colocou-o sob enorme pressão", o que "terá um efeito duradouro na capacidade das organizações humanitárias e dos doadores para responderem a emergências noutros locais".
A invasão russa da Ucrânia, um dos maiores exportadores mundiais de cereais, contribuiu também para uma grave escassez alimentar nas regiões mais pobres do mundo.
Apesar dos esforços para retomar as entregas dos cereais ucranianos através do Mar Negro, desde o início do ano registou-se uma quebra de 46% das exportações destes bens.
"Esta queda maciça está a ter um grande efeito no Corno de África, onde mais de 80 milhões de pessoas enfrentam uma fome extrema -- a pior crise alimentar dos últimos 70 anos", segundo um relatório da IFRC.
A Cruz Vermelha, que conta atualmente com mais de 100 mil voluntários e pessoal local na Ucrânia e países vizinhos, continua a apurar as suas estimativas relativas às necessidades humanitárias da nação invadida.
A organização já denunciou os enormes danos na Ucrânia, onde milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas.
Já a inflação crescente e a escassez de bens essenciais, tais como o combustível e alimentos na Ucrânia, estão a forçar cada vez mais as pessoas a lutar pelo acesso aos mesmos, sendo que a necessidade continuará a crescer com o tempo mais frio, previsto para as próximas semanas.
"Este será o inverno mais duro", disse o diretor-geral da Cruz Vermelha Ucraniana, Maksym Dotsenko, num briefing de imprensa.
"As necessidades estão a aumentar" e as consequências serão sentidas para além da Ucrânia, avisou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.