É "inaceitável" não aumentar salários para travar “perda de poder de compra brutal”
12-04-2022 - 19:17
 • Pedro Mesquita , com redação

A taxa de inflação em Portugal subiu em março para 5,3%, o valor mais alto desde 1994. Antigo presidente do Conselho Económico e Social critica resistência de Governo e patrões ao aumento de salários.

O Governo e os patrões parecem de acordo em não aumentar e isso significa austeridade em tempo de inflação, afirma Silva Peneda, antigo presidente do Conselho Económico e Social.

Em declarações à Renascença, o antigo ministro do Emprego de Cavaco Silva alerta para uma quebra do poder de compra "brutal" e "inaceitável" face ao aumento dos preços. A taxa de inflação em Portugal subiu em março para 5,3%, o valor mais alto desde junho de 1994.

“Então, quer dizer que estão todos de acordo [Governo e patrões] que vai haver austeridade. Se não há aumento de salários e se a inflação está a apontar para 5%, isso significa uma perda de poder de compra brutal para os trabalhadores. Isso não é aceitável”, afirma Silva Peneda.

Não há alternativa a aumentar salários? “Depende da quantidade em que se aumenta os salários. Agora, dizer pura e simplesmente que não se aumenta salários não me parece que seja algo de realista”, responde Silva Peneda.

Quando esteve no Governo de Cavaco Silva, a inflação estava na ordem dos 7%. Silva Peneda recorda que, na altura, o executivo delineou um plano em colaboração com os parceiros da Concertação Social.

“Nessa altura, havia uma preocupação grande de combate à inflação. Por isso mesmo é que, em sede de Concertação Social, se começou a pensar em fazer os cálculos em termos de inflação esperada para o futuro. Os parceiros sociais aceitavam a inflação que o Governo se disponha a colocar no Orçamento seria de 6%, por exemplo. A partir desse número, então os salários aumentavam, no mínimo, 6% e depois um pouco mais em função da produtividade”, recorda.

Em relação aos funcionários públicos, Silva Peneda considera que é um problema diferente, porque tem impacto no défice orçamental e não passa pela Concertação. “Eu acho que seria irrealista apontar para aumentos salariais muito elevados na Função Pública”, sublinha.

Também ouvido pela Renascença, o economista João Duque considera inevitável aumentar salários nos setores mais dinâmicos da economia.

“Eu acho que sim, porque há um problema grave, particularmente com aqueles que não têm outro meio de subsistência que não o seu salário. Aumentar os salários abaixo da inflação prevista para este ano é fazer com que as pessoas percam poder de compra.”

João Duque adverte que outros setores, que não podem repercutir o aumento dos custos nos seus preços de venda, terão mais dificuldades em aumentar salários para atenuar a perda de poder de compra dos seus trabalhadores.