O "chief development officer" (CDO) da Sonae, João Günther Amaral, considerou esta quarta-feira que a greve geral de jornalistas marcada para quinta-feira é um "reflexo do desafio de reinvenção" que a comunicação social enfrenta em todo o mundo.
"Entendemos que o que está a acontecer é reflexo do enorme desafio que os meios de comunicação social enfrentam hoje em dia, não só em Portugal, mas na Europa e no mundo, e que é um desafio de reinvenção, com tudo o que está a acontecer ao nível das plataformas digitais e da canalização dos meios que eram investidos em jornais e que geravam as receitas dos jornais e de outros meios de comunicação social, e que estão a ser canalizados para outro lado", afirmou o responsável.
Falando durante a apresentação das contas do exercício de 2023 do grupo Sonae, dono do jornal Público, João Günther Amaral considerou viver-se atualmente "um momento de reinvenção do que vai o ser futuro de cada uma dessas plataformas".
"É nesse contexto que aparece este momento, em que pela primeira vez em 40 anos há uma greve de jornalistas", afirmou.
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) agendou uma greve geral para quinta-feira, 14 de março, a primeira em mais de 40 anos (a última foi em 1982), contra os baixos salários, precariedade e degradação das condições de trabalho do setor.
O dia da greve será marcado por uma concentração de jornalistas em Coimbra, pelas 9h00, depois outra no Porto, na praça Humberto Delgado, pelas 12h00, o mesmo acontecendo à mesma hora em Ponta Delgada.
Em Lisboa, a concentração terá lugar no Largo do Camões pelas 18h00, em que também se faz um apelo à sociedade civil para estar presente.
Sindicato dos Jornalistas pede apoios para o setor
O SJ convocou a paralisação em protesto contra a precariedade, mas também como "um grito de alerta" para apoiar o jornalismo antes que seja "tarde demais".
"Espero uma forte adesão porque na verdade a precariedade é muito mais alta que na generalidade dos outros setores, os salários são cada vez mais baixos, não temos progressões de carreira reiteradamente nos últimos 20 anos", afirmou o presidente do SJ, Luís Simões, em declarações à Lusa.
"Não fazemos greve há 40 anos, neste momento temos mais que do que motivos para o fazer porque na verdade o exercício do jornalismo degradou-se de uma forma incrível" neste tempo, prosseguiu, apontando que atualmente os salários "são mínimos e a exigência para os jornalistas é máximo".
Por isso, "temos todos os motivos para acreditar que vamos ter uma adesão muito forte à greve", sublinhou o presidente do SJ.
Esta paralisação não assenta apenas em exigências laborais, mas também há outro fator que leva os jornalistas a paralisarem na quinta-feira: "O jornalismo neste momento em Portugal não é de todo apoiado", enfatizou.
Num contexto em que na União Europeia procura apoiar o jornalismo, "Portugal é dos países da União em que "per capita" [por pessoa] menos apoios há para a comunicação social", destacou.
Por isso, a greve é "também um grito de alerta para o poder político e para os decisores: ou se apoia agora o jornalismo livre e independente ou vai ser tarde demais".