Meryl Streep e os Panama Papers: "São uma piada de muito mau gosto, feita à nossa custa"
06-09-2019 - 18:00
 • Joana Gonçalves

Baseado no livro “Secrecy World: Inside the Panama Papers Investigation of Illicit Money Networks and the Global Elite”, de Jake Bernstein, a comédia dramática "The Laundromat" apresenta uma abordagem irreverente do escândalo mundialmente conhecido como Panamá Papers.

Apresentado como uma comédia dramática, “The Laundromat” revela-se um autêntico manifesto contra um sistema que favorece os privilegiados à custa do sacrifício de “cada um de nós”.

Com realização de Steven Soderbergh e argumento de Scott Z. Burns, o filme da Netflix apresentado no domingo, dia 1 de setembro, no Festival de Veneza, explora a investigação jornalística que culminou na divulgação de informações detalhadas de mais de 214 000 empresas de paraísos fiscais offshore, incluindo as identidades dos respetivos acionistas e administradores.

“Vivemos numa época em que o ciclo mediático está acelerado e todos nós tentamos acompanhar a velocidade dos eventos atuais. Esta é uma forma divertida, rápida e engraçada de contar uma piada de muito mau gosto, feita à nossa custa”, explicou Meryl Streep em conferência de imprensa no dia da estreia mundial do filme.

A gigante do cinema junta-se a Gary Oldman, Antonio Banderas, Sharon Stone e Robert Patrick num elenco de luxo que conta ainda com David Schwimmer e James Cromwell.

Baseado no livro “Secrecy World: Inside the Panama Papers Investigation of Illicit Money Networks and the Global Elite”, de Jake Bernstein, esta comédia dramática biográfica apresenta uma abordagem irreverente do escândalo mundialmente conhecido como “Panama Papers”.

A investigação, realizada por uma centena de jornais, revelou um vasto sistema de evasão fiscal, orquestrado pelo escritório de advogados Panama Mossack Fonseca. A presença em paraísos fiscais de bens detidos por 140 figuras políticas, estrelas do futebol ou milionários provocou uma onda de indignação mundial.

Num diálogo direto com os telespectadores, com grandes semelhanças à receita aplicada em “The Bog Short”, Oldman e Banderas retratam os advogados Jurgen Mossack e Ramon Fonseca, que nesta narrativa tentam explicar o seu lado da história, numa jornada marcada por negócios ilícitos e corrupção.

A escolha do género não foi, para Steven Soderbergh, a mais óbvia, mas segundo o realizador é aquela que melhor satisfaz a intenção da equipa.

“Começamos por tentar descobrir a melhor abordagem para apresentar um assunto complexo de uma maneira que seria memorável e ficasse na mente dos telespectadores e decidimos que uma comédia negra era a melhor forma de o conseguirmos”, explicou.

“O que também nos deu a oportunidade de usar a complexidade deste tipo de atividade financeira quase como uma piada, uma preparação para a estocada final ", acrescentou.

"The Laundromat" é um dos dois filmes da Netflix apontado à corrida do maior prémio Leão de Ouro do festival, que a gigante do streaming ganhou no ano passado com "Roma", de Alfonso Cuarón.