O Papa Francisco chamou um padre argentino, Augusto Zampin, para coordenar a “task-force” do Vaticano pós-pandemia.
Zampini não é um sacerdote vulgar. Ainda jovem, era advogado, especialista em direito bancário e financeiro, foi colaborador do Banco central da Argentina, mas, aos 35 anos, mudou radicalmente de vida e seguiu o caminho do sacerdócio.
Durante anos exerceu a sua missão nas favelas de Buenos Aires, junto dos mais pobres. Hoje, aos 50 anos, é um homem-chave na coordenação da “Covid-19 Vatican Commission”.
Esta comissão pós pandemia, recém-constituída pelo Papa, reúne os cinco grupos de trabalho coordenados pelo Dicastério para o Desenvolvimento e Integral, em ligação com os vários sectores do Vaticano e diversas entidades pública, privadas e organismos internacionais, numa inter-acção multidisciplinar em cinco frentes: economia, saúde, política, segurança e ecologia. O padre Zampini é o secretário-adjunto deste novo projecto presidido pelo cardeal Turckson.
Trata-se de “um mecanismo de análise e reflexão sobre as consequências socio-económicas, culturais, políticas e espirituais da pandemia”, explica o próprio Zampini numa entrevista ao portal “Vatican Insider”, do diário italiano “La Stampa”.
“Devemos prever o que está a acontecer e trabalhar, desde já, na perspectiva da ciência e da fé."
“Não pretendemos resolver os problemas do mundo,” mas “queremos contribuir para dar uma resposta global a esta crise que consideramos multi dimensional pelas causas e efeitos na saúde, economia, ecologia e segurança”, doz Zampini, sublinhando que "não podemos repetir os erros da crise de 2008”
“Evitar que os pobres sejam os mais atingidos"
Neste contexto, o padre Zampini lembra que “as decisões que os líderes mundiais tomam hoje vão influenciar profundamente o futuro da humanidade e que "a Igreja pode ajudar”.
O objectivo é acompanhar essas grandes opções, “para que não se repitam os erros da crise de 2008 e que, desta vez, se tenha em conta os mais vulneráveis”, porque “a história ensina-nos que as primeiras vítimas são os pobres”.
Na base desta iniciativa, está a constatação de que as desigualdades sociais se agravam com a pandemia, pois “os que sofrem de disparidade económica correm maior risco de contágio e a doença traz repercussões socio-económicas mais duras a nível de desemprego, violência e falta de acesso a serviços essenciais, como a água”.
Por isso, é preciso ajudar os mais pequenos e fragilizados: “Neste tempo de confusão e desespero, a Igreja pode surgir como ponto de referência e esperança."
Sobre as mudanças “pós Condi-19”, o ex-advogado Zampini, conclui: “Não podemos continuar a manter uma atitude 'business as usual', sendo urgente estabelecer novos critérios para que não se repitam certos erros e se possa criar um mundo mais justo e sustentável."