As dívidas do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, ao Novo Banco estão a ser auditadas, revelou esta terça-feira no Parlamento o presidente da instituição bancária.
Sem avançar nomes, António Ramalho anunciou que o Fundo de Resolução pediu uma auditoria específica à Promovalor, grupo económico ligado ao presidente do Benfica.
A questão foi levantada na audição parlamentar de António Ramalho pela deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.
O presidente do Novo Banco garantiu que não houve aumento de exposição do grupo. Aguarda-se, neste momento, pelo resultado da análise às contas
Segundo o "Correio da Manhã", entre agosto de 2014 e dezembro de 2018, o Novo Banco terá perdido mais de 225 milhões de euros com o grupo económico de Luís Filipe Vieira, que será um dos maiores devedores do antigo BES. Segundo a auditoria da Deloitte, a dívida total da Promovalor ao Novo Banco ultrapassa os 760 milhões de euros.
Carteira de imóveis do BES "velha, má e ilegal"
Face às questões do Bloco de Esquerda, António Ramalho disse lamentar que o Novo Banco seja olhado como um "jogo político".
"Há uma coisa que me custa: é que o Novo Banco não é um jogo político para ser jogado, não é um Ás deste jogo, é pura e simplesmente uma instituição que pode ser e que deve ser avaliada, em que o Fundo de Resolução e a administração do Novo Banco devem ser verificadas e percebidas, mas que não me parece que possa, pura e simplesmente, ser utilizada desta maneira."
Na mesma audição na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, António Ramalho defendeu ainda que herdou do BES uma carteira de imobiliário "má, velha e ilegal".
"O banco tinha uma carteira que herdou de ativos imobiliários que era má, era velha e era ilegal. Era má, porque só 14% desses ativos eram residenciais, 43% eram terrenos e 43% eram fábricas. Era também velho, porque 35% destes ativos tinham mais de cinco anos, mais de dois terços provinham do BES e tínhamos mais de 100 imóveis com mais de 20 anos dentro do banco. E era ilegal, porque os bancos são obrigados a vender os ativos não afetos à exploração no prazo de dois anos."
Provar que o negócio foi "justo e adequado"
Sobre a venda de imóveis alegadamente a "preço de saldo", como noticiado no final de julho pelo jornal "Público", António Ramalho anunciou que já chegou o parecer que o Novo Banco pediu a uma consulta independente internacional, com o objetivo de, nas suas palavras, esclarecer que o negócio foi justo e adequado.
"Tenho a certeza que toda a gente terá de reconhecer que o processo é adequado, que o preço foi o preço de mercado e que a estratégia, do ponto de vista do desinvestimento, era a única estratégia possível. Não me parece que isto seja mais do que um estranho caso de estudo, que foi lançado com esta maravilhosa capa que dizia que o Novo Banco vendeu 13 mil imóveis a preço de saldo a fundo das ilhas Caimão. Sabemos que não. Sabemos que foram vendidas a sociedades portuguesas detidas por uma empresa luxemburguesa chamada Encourage. E não eram 13 mil, eram oito mil”.
Neste ponto, o gestor defende que o Novo Banco não foi o único a vender imóveis em pacote, com prejuízo, referindo que outros bancos fizeram o mesmo, até porque não tinha 20 anos para vender os ativos um a um.
António Ramalho garante que nenhuma decisão é tomada sem que o interesse público seja defendido. O presidente do banco sublinha ainda que, em qualquer momento, o Fundo de Resolução pode afastar o seu conselho de administração.
O Ministério Público disse recentemente que não encontrou provas que sustentem que os ativos do Novo Banco tenham sido vendidos ao desbarato. A investigação foi desencadeada na sequência de uma carta enviada pelo primeiro-ministro, António Costa, à procuradora geral da República, pedindo que as operações fossem analisadas após uma denúncia de Rui Rio, líder do PSD.