A organização não-governamental Greenpeace alerta que as emissões poluentes na União Europeia (UE) podem aumentar em 32% pela construção de infraestruturas e contratação de gás natural liquefeito (GNL), um dos contratos de abastecimento feito pela Galp para Portugal.
"Um novo e importante estudo da Greenpeace International conclui que os governos da UE estão a planear construir tanta capacidade de importação de GNL que, se concretizada, aumentaria as emissões de gases com efeito de estufa do bloco até ao equivalente a 950 milhões de toneladas de dióxido de carbono [CO2] por ano ou o equivalente 32% do total de emissões" poluentes ao nível europeu registadas em 2019, vinca a associação ambiental num estudo hoje divulgado.
Intitulado de "Quem lucra com a guerra - como as empresas de gás capitalizam com a guerra na Ucrânia", o relatório revela que grande parte dos projetos (previstos ou iniciados) deverão estar concluídos em 2026, o que seria "demasiado tarde para responder à atual crise de abastecimento".
Também para esse ano a Greenpeace prevê um "pico nas entregas reais deste GNL" à UE.
Um dos contratos de abastecimento é referente a Portugal e diz respeito ao acordo celebrado entre a Galp e a NextDecade para compra de GNL norte-americano proveniente do projeto Rio Grande LNG, no Texas, que prevê a entrega de um milhão de toneladas anuais durante 20 anos, a partir de 2027.
Segundo dados incluídos no relatório e que têm por base a informação da Gas Infrastructure Europe, os terminais de GNL da UE tinham, em 2021, uma taxa de utilização da regaseificação técnica de 37,8%, o que significa que 62,2% da capacidade não foi utilizada nesse ano.
Também em 2021, Portugal "já se encontrava perto do seu limite com 83,5% de utilização", de acordo com o documento.
"A Greenpeace apela para a UE parar a construção de novos terminais de GNL, a proibir novos contratos de gás a longo prazo, a fixar uma data para a eliminação progressiva do gás fóssil até 2035, a tornar obrigatória a meta europeia de 15% de redução da procura de gás fóssil e a resolver conflitos de interesse e a expulsar a indústria dos combustíveis fósseis da tomada de decisões, proibindo as empresas de petróleo, carvão e gás e os seus representantes de exercer pressão sobre a UE em matéria de política climática e energética", salienta a organização na informação enviada à imprensa.
Atualmente, oito novos terminais de importação de GNL já foram aprovados na UE e outros 38 estão pendentes de aprovação, infraestruturas que, argumenta a Greenpeace, iriam "criar um sobreabastecimento estrutural maciço de gás fóssil na Europa que iria acelerar a crise climática, criar dependências que enfraquecem a segurança energética europeia e criar milhares de milhões de euros de ativos irrecuperáveis".
No ano passado, nomeadamente devido às tensões geopolíticas causadas pela guerra da Ucrânia, as importações de gás liquefeito nos Estados Unidos pela UE aumentaram 140%, com França a ser responsável por quase um quarto, seguindo-se o Reino Unido e Espanha.