A comissão executiva do CDS-PP mantém a confiança no dirigente Abel Matos Santos, que esta semana foi notícia por declarações em que chamou “agiota de judeus” a Aristides de Sousa Mendes, elogiou a PIDE e Salazar.
O CDS, agora liderado por Francisco Rodrigues dos Santos, afirma, em comunicado, que é um partido sem “espaço para o racismo, para a xenofobia, para o anti-semitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade”.
“Repudiamos, pois com veemência, qualquer afirmação passada, presente ou futura que se afaste desta matriz e mantemo-nos firmes no caminho que iniciámos ainda antes de terminar o nosso último congresso”, sublinha a comissão executiva.
Os centristas referem que Abel Matos Santos fundou uma tendência interna, cuja carta de princípios reconhece “os princípios gerais do Estado de Direito: o primado da Lei, o respeito pela dignidade da pessoa humana e a garantia dos seus direitos fundamentais, a liberdade e o pluralismo, a limitação e separação de poderes, o Governo fundado no consentimento e a igualdade perante a Lei”.
Sobre as suas “afirmações antigas”, o CDS afirma que algumas têm “mais de dez anos” e foram agora “repristinadas apenas com o firme propósito de prejudicar todo o CDS”.
A forma pública como Abel Matos Santos “se distanciou do rótulo ignóbil que lhe quiseram colar é já clarificadora". O dirigente centrista retratou-se esta sexta-feira e pediu desculpa à comunidade israelita, garantindo que tem o “maior respeito e admiração pelo povo judeu”.
“A direção do CDS regista a mensagem cristalina que dirigiu hoje pessoalmente à Comunidade Israelita de Lisboa, na qual reafirma o seu empenho em honrar a história do povo judeu e a memória dolorosa do Holocausto. De resto, sempre o CDS defendeu, desde a sua fundação em 1974, o Estado de Israel, os direitos do povo judeu e a paz justa no Médio Oriente”, refere o comunicado.
O partido de Francisco Rodrigues dos Santos quer ultrapassar este caso a envolver Abel Matos Santos, que nos últimos anos tem desempenhado vários cargos internos a nível local e a nível nacional, e que é autarca em Lisboa.
“É tempo de seguir em frente e de não permitir que os equívocos e mal-entendidos do passado nos comprometam o futuro”, sublinha a direção do CDS.
“Não nos desviaremos do nosso objetivo. A defesa empenhada da matriz judaico-cristã bem como dos valores fundadores com que cunhámos a nossa moção, é serviço a que nenhum militante se pode furtar. O nosso programa é claro, a nossa determinação é imensa e nosso compromisso é Portugal, que vamos saber servir, conclui o comunicado.
Pires de Lima pediu retirada de confiança a Matos Santos
O jornal "Expresso" revelou esta semana declarações antigas de Abel Matos Santos em que o centrista, fundador da tendência interna Esperança em Movimento (TEM), chamou "agiota de judeus" a Aristides de Sousa Mendes, que desafiou Salazar e salvou milhares de pessoas daquela comunidade durante a II Guerra Mundial.
A Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) condenou as declarações do dirigente do CDS, que considera ser uma “ofensa a todos os judeus e não judeus que foram salvos da barbárie nazi durante a Segunda Guerra Mundial”.
Esta sexta-feira, o ex-vice-presidente do CDS-PP António Pires de Lima exigiu ao novo líder do partido que "retire a confiança política" ao dirigente Abel Matos Santos, dada a "gravidade das declarações" que fez sobre Salazar e Aristides Sousa Mendes.
"Peço ao dr. Francisco Rodrigues dos Santos que tenha uma posição clara nesta matéria, retire a confiança política ao dirigente Abel Matos Santos pela gravidade das declarações que proferiu e que, como consequência, Abel Matos Santos deixe de fazer parte do órgão da direção do partido", pediu António Pires de Lima.