Mais de metade (52%) dos estudantes deslocados estão no mercado de arrendamento "sem contrato nem recibos de renda", o que os impossibilita de comprovar a despesa para concorrer ao complemento de alojamento, revela um inquérito realizado entre 16 e 21 de outubro pela Federação Académica do Porto (FAP).
No inquérito, que incidiu sobre os estudantes deslocados e não deslocados (diferenciando beneficiários de bolsa de estudo e não beneficiários), participaram 1.325, a maioria dos quais inscritos em instituições de Ensino Superior públicas (87%) e em cursos de licenciatura (65%).
Dos 1.007 estudantes deslocados (76% da amostra), 52% estão no mercado de arrendamento privado "sem contrato nem recibos de renda, não podendo comprovar a despesa para concorrer ao complemento de alojamento para bolseiros ou ao novo apoio anunciado pelo Ministério, dirigido a estudantes que sendo de famílias de baixos rendimentos, não são bolseiros", afirma, citada no documento, a presidente da FAP, Ana Gabriela Cabilhas.
Entre os estudantes deslocados, o inquérito concluiu também que 17% ainda não conseguiu encontrar alojamento.
"Cerca de um em cada quatro estudantes deslocados concorreram a alojamento em residências dos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto ou do Instituto Politécnico do Porto, mas cerca de 150 não tiveram vaga, o que corresponde a 60% dos estudantes que declararam ter concorrido", conclui.
Em média, um estudante deslocado paga "318 euros por um quarto no mercado de arrendamento", adianta a FAP, notando que cerca de metade dos estudantes "ainda é forçado a suportar despesas não incluídas na renda", como a água, energia e 'internet'.
"Entre os inquiridos, há ainda aproximadamente 20% de estudantes que pagam mais de 400 euros por um quarto, dos quais 42% referem estar a fazer um grande esforço financeiro para suportar a despesa", realça o inquérito.
Quanto à capacidade de suportar os custos com o alojamento, 18% dos estudantes que procuraram no mercado de arrendamento afirmam já ter ponderado ou estar a ponderar abandonar o Ensino Superior.
"Porém, a percentagem de estudantes inquiridos que pondera abandonar o Ensino Superior aumenta para 24% se analisadas apenas as respostas daqueles que declararam estar alojados “num quarto ou casa que representa um grande esforço financeiro” ou que ainda se encontram “à procura de quarto ou casa”", nota o documento.
Já 42% dos estudantes não deslocados (que correspondem a cerca de 25% da amostra) afirmaram demorar mais de uma hora a fazer o percurso entre a habitação do agregado familiar e a instituição do Ensino Superior que frequenta.
No documento, a presidente da FAP salienta que "se não forem urgentemente encontradas soluções, muitos estudantes poderão ser forçados a abandonar o Ensino Superior por falta de condições financeiras", defendendo a atualização do Indexante de Apoios Sociais no inicio do próximo ano.
Universidade aluga camas para estudantes durante reabilitação de residências
A Universidade do Porto anunciou esta segunda-feira que vai alugar camas no setor social para acolher temporariamente os estudantes que habitam nas residências universitárias dos Serviços de Ação Social a reabilitar no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Em resposta à agência Lusa, a instituição garantiu que a solução para abrigar temporariamente os estudantes bolseiros deslocados que vivem nas residências dos Serviços Sociais que, fruto do PRR vão ser reabilitadas passa pelo "aluguer de camas para colmatar as que forem sendo intervencionadas".
A presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Ana Gabriela Cabilhas, afirmou hoje estar preocupada com o "destino" destes estudantes.
"Não conhecemos ainda as soluções para os estudantes que estão nas residências dos Serviços de Ação Social e que vão ser reabilitadas. Estes estudantes bolseiros deslocados precisam de ter um destino enquanto decorre a reabilitação", observou Ana Gabriela Cabilhas.
À Lusa, a Universidade do Porto afirmou estar já em conversações com "várias entidades" do setor social, sendo também "provável" que tenha de recorrer ao setor privado para "manter a oferta existente de camas".
"Não haverá diminuição de oferta de camas, nem acréscimo de custos para os estudantes, já que as residências estão a servir quase totalmente estudantes bolseiros, com bolsa de alojamento fixada pelas regras da Ação Social Escolar", assegurou a universidade, acrescentando que não há, de momento, nenhum contrato assinado.
No concelho do Porto foram aprovadas 10 candidaturas da universidade, politécnico e município ao PRR para a reabilitação ou construção de camas em residências universitárias, que representam um financiamento superior a 33,2 milhões de euros.