​Será o PS capaz de vencer no "Cavaquistão"?
16-09-2021 - 11:36
 • Liliana Carona

Fernando Ruas, o deputado na Assembleia da República que foi presidente da Câmara de Viseu durante 24 anos, está de volta à disputa autárquica. João Azevedo, também deputado, é o candidato socialista que acredita que, “pela primeira vez, pode haver uma equipa diferente a ganhar as eleições” no chamado "Cavaquistão". Há oito candidatos na corrida às eleições autárquicas em Viseu.

“Era um antigo hospital, lembro-me até da transferência, foi da construção da nossa responsabilidade, com a assinatura do arquiteto Gonçalo Byrne”, recorda Fernando Ruas no local onde acedeu ser entrevistado pela Renascença.

Os mais novos não se recordarão que a unidade hoteleira Pousada de Viseu foi um antigo hospital, mas Fernando Ruas que foi presidente da Câmara de Viseu durante 24 anos, lembra-se de todo o processo de mudança. E acredita que é o passado como autarca que se reflete no seu lema: ‘Confiança’.

“Não tive hesitação nenhuma em escolher esta lema, ‘Confiança’, e eu quero que os eleitores tenham confiança no autarca que conheceram durante 24 anos, um autarca como o algodão, sem enganar, eles sabem o que fiz, e que não fosse um salto para o desconhecido, podem avaliar o passado e fazer uma escolha sem hesitações”, considera Fernando Ruas, que assume ainda que se fizer uma análise comparativa do que faz na atividade parlamentar e na atividade executiva, “com certeza que prefiro a atividade executiva”.

Sem hesitações, o candidato do partido socialista, João Azevedo, acedeu ao convite do líder do partido, António Costa, para candidatar-se à Câmara de Viseu. Antes, a ideia nunca lhe tinha passado pela cabeça.

“Nunca tinha pensado ser presidente da Câmara de Viseu, foi a partir do momento em que António Costa me convidou para essa missão, sinto-me bem preparado, tenho uma equipa maravilhosa, com percurso académico e profissional à vista de toda a gente, é uma candidatura muito aberta”, defende o candidato socialista.

João Azevedo realça ser “uma missão importante para ajudar Viseu a ser um território mais forte”. E aponta críticas ao seu principal adversário. “Tenho consciência que hoje a política não se faz sentado no Rossio à espera que tudo aconteça, Viseu precisa de toda a gente, do apoio do governo, do poder suprarregional, do poder da Europa, nós estamos a anos-luz à frente da candidatura da oposição, porque representa políticas do passado, gestão e modelos do passado, uma disputa pequenina e Viseu é muito mais do que isso”, acusa.

“Em condições normais eu não estava aqui”

Fernando Carvalho Ruas, 72 anos, natural de Viseu, economista de formação, deputado na Assembleia da República, foi presidente da Câmara de Viseu entre 1989 e 2013. Assume-se como militante do PSD, desde sempre.

Voltar às lides autárquicas foi inesperado. “Não estava à espera, em condições normais eu não estava aqui, se não fosse a fatalidade que aconteceu ao Dr. Almeida Henriques, com certeza ele seria o candidato e eu continuaria na Assembleia da República. Eu candidato-me porque fui solicitado e depois para além das estruturas do partido, recebi centenas de mensagens de viseenses que me pediram para regressar à câmara.”

O antigo presidente da Associação Nacional de Municípios conta que, “depois de uma análise demorada e de alguma resistência inicial, achei que não devia deixar de atender a esta solicitação”.

O candidato social-democrata esclarece que, além do convite do partido, “é pelo grande amor que tem por esta terra” que se candidata. “Eu amo esta terra e foi esta a razão, apesar de algum desgosto familiar que proporcionei, mas pesaram as centenas de mensagens de viseenses a apelar para que aceitasse ser candidato”.

Azevedo quer mais indústria, Ruas mais obras

João Nuno Ferreira Gonçalves de Azevedo, 46 anos, nasceu em Viseu, área de formação: educação física e gestão de administração escolar. Militante do PS há 21 anos, foi presidente da Câmara de Mangualde entre 2009 e 2019.

Caso seja eleito, o que vai fazer por Viseu? Tem quatro questões em cima da mesa. “A primeira, a questão da industrialização do concelho. Viseu precisa de uma indústria limpa, competitiva com melhores salários, Viseu fica atrás de uma série de concelhos a nível médio de vencimento e temos de dar um sinal claro de que a indústria é fundamental para Viseu”, defende o candidato quer quer conquistar Viseu para o PS.

A segunda medida, avançar com um simplex administrativo. “Viseu é um mau exemplo para todos aqueles que necessitam da câmara, não responde a tempo, deixa passar os prazos, não é amiga do investidor”, critica.

“Nos últimos 32 anos, as mesmas pessoas ganham as eleições e não há um momento de mudança e assumo o compromisso de que no prazo de seis meses esse modelo vai ser mudado”, garante.

O candidato socialista elenca outros dois desígnios. “Depois um terceiro aspeto, o empoderamento. Viseu não pode ter um candidato que não tenha relações boas com as instituições, ou são de um lado ou são de outro, as pessoas estão sempre mal dispostas. Depois a quarta questão, os níveis de saúde, o centro ambulatório de radioterapia, é um centro que vai ser financiado por fundos comunitários”.

Neste ponto, João Azevedo recorda que Fernando Ruas foi presidente de câmara “durante muito tempo” e nada avançou. “A questão do centro de radioterapia... eu algum dia deixaria que se arrastasse tanto tempo”, atira.

“É a diferença entre uma equipa que quer fazer coisas, que efetiva sonhos, e outra que não quer que nada aconteça, porque estão habituados a que nada aconteça”, observa o socialista, salientando ainda a vontade de levar a rede ferroviária até Viseu.

Para o candidato social-democrata Fernando Ruas há obras para fazer. “Tenho uma inclinação natural para fazer obras e gosto muito e Viseu precisa, sendo as duas maiores preocupações: equilibrar a cidade em termos de expansão urbanística, a cidade precisa de uma expansão a norte, que é a parte mais baixa, na zona da fonte cibernética, nomeadamente no prolongamento da Avenida da Europa, depois uma outra preocupação tentar minimizar o crescimento assimétrico populacional”.

Fernando Ruas sublinha que Viseu tem vindo a ganhar população, “mas é muito assimétrica, concentrada na zona urbana e com alguma desertificação nas freguesias mais periféricas”. O objetivo do candidato do PSD é “tentar estancar ou até inverter este fluxo”.

A sondagem e a “maioria silenciosa”

Com uma sondagem apresentada pelo “Jornal do Centro” a dar vitória a Fernando Ruas, o candidato socialista João Azevedo garante estar tranquilo, mas não esconde a surpresa.

“A sondagem deixa-me surpreendido, numa equipa que tem mais de 1.600 pessoas, que tem feito campanha permanente, que se notam sinais na rua, nas empresas, é a minha sétima candidatura, sei o que está a acontecer. Estamos tranquilos. Em 2001, Fernando Gomes, também ganhava a Rui Rio e, passado uma semana, Rui Rio ganhou a Fernando Gomes”, recorda João Azevedo.

Pensar que são favas contadas pode ser um grande erro. O cabeça de lista do PS diz que “até pode ser perigoso para quem acha que já está ganho, porque reforça o voto nos que acham que têm poucos votos”.

Acredita que, “pela primeira vez, pode haver uma equipa diferente a ganhar as eleições e a verdadeira sondagem é no dia 26”. Destaca ainda que já passou por vitórias e derrotas. “Conheço os dois sabores. As equipas estão tranquilas. Eu sou cabeça de lista no distrito e vou continuar a ser. Há uma maioria silenciosa cada vez maior e é um voto com medo e eu respeito muito. Há uma grande mobilização”, expõe João Azevedo.

O candidato socialista à presidência do município de Viseu afirma respeitar o adversário Fernando Ruas, mas não o vê ser novamente autarca. “Tenho muito respeito pessoal pelo Dr. Fernando Ruas, mas já não tem condições políticas para governar uma câmara como a de Viseu e, se isso acontecesse, era um descalabro para o concelho de Viseu colocando o concelho numa grande passividade. Ele foi presidente de câmara durante muito tempo, a questão do centro de radioterapia, por exemplo, eu algum dia deixaria que se arrastasse tanto tempo.”

Fernando Ruas não dorme “à sombra da bananeira”

“Não sou insensível a sondagens”, começa por garantir Fernando Ruas ao ver o estudo que lhe dá vitória. “É melhor ter este resultado que não ter, mas não me deixarei adormecer à sombra da bananeira, continua o planeamento da campanha, falar com os viseenses, vou fazê-lo na mesma, e depois aceitarei livremente aquilo que os viseenses decidirem”, declara, insistindo que “liga às sondagens, sem ficar deslumbrado”.

Sobre o candidato socialista, Fernando Ruas diz: “eu respeito muito os meus adversários, é de exaltar quem se disponibiliza, não sei se é mais forte ou mais fraco que os seus antecessores, este é o sétimo candidato socialista que eu defronto, com características diferentes, mas todos a dizerem que iam ganhar, aguardemos”, conclui.

Com um ciclo de governação do PSD de mais de 30 anos em Viseu, outros nomes tentam conquistar a liderança autárquica do denominado “Cavaquistão”. Além do socialista João Azevedo, Fernando Ruas disputa a liderança do município com Diogo Chiquelho do PAN, Fernando Figueiredo da Iniciativa Liberal, Francisco Almeida da CDU, Manuela Antunes pelo Bloco de Esquerda, Nuno Correia da Silva em representação do CDS+PPM e Pedro Calheiros do Chega.