A diretora-geral da Saúde disse, no sábado, em Lisboa que a epidemia do Covid-19 em Portugal "ainda é limitada", mas não se sabe o que está por "trás da ponta do icebergue".
"Isto ainda está limitado, mas não quer dizer que não haja propagação na comunidade, por circulação proativa do vírus. Como podem ver, em poucos dias (...) houve uma expansão relativamente grande e rápida a partir de uma único caso importado", afirmou Graça Freitas numa conferência de imprensa, em Lisboa, onde esteve ao lado da ministra da Saúde.
A responsável da autoridade de saúde esclareceu que os casos que existem em Portugal "são obviamente de contágio" e explicou que houve uma pessoa regressada de Itália, que é considerada no foco da epidemia de Covid-19, na zona Norte, um caso central.
Aquela pessoa teve vários contactos sociais diferentes de pessoa para pessoa, e originou, logo à partida, nove casos secundários, ao transmitir-lhes diretamente o vírus, sendo que uma daquelas nove pessoas já originou um caso terciário, adiantou.
Por isso, "por precaução, e porque sabemos apenas a ponta do icebergue e não sabemos o que está por baixo desta ponta do icebergue, tomamos estas medidas anunciadas pela senhora ministra", afirmou Graça Freitas.
A responsável da Direção-Geral da Saúde (DGS) assegurou ainda que as 21 pessoas cuja infeção por Covid-19 já está confirmada encontram-se em estado estável.
A ministra da Saúde, Marta Temido, assegurou, por seu lado, que já está identificada a capacidade de um conjunto de hospitais de primeira linha, de segunda linha e de terceira linha para dar resposta à epidemia, "mas se o surto evoluir todos os hospitais do serviço nacional de saúde serão mobilizados para a resposta, como está a acontecer noutros países europeus".
"O número de camas, de profissionais, a capacidade laboratorial de resposta vai sendo dinamicamente ajustada aquilo que sejam as necessidades, com a possibilidade prevista de recorrermos a outros setores, concretamente do terceiro setor e do setor privado", declarou.
O risco da epidemia do Covid-19 em Portugal será reavaliado nas próximas horas e medidas anunciadas hoje pelo Governo poderão ser alargadas nos próximos dias, admitiu também Marta Temido na conferência de imprensa que deu no Ministério da Saúde.
"Dado que se aguardam ainda resultados de casos suspeitos validados em investigação, o risco que levou à determinação destas medidas será reavaliado nas próximas horas, durante o dia de amanhã, tomando-se ainda e dando conta das medidas julgadas necessárias oportunamente", afirmou.
Segundo a ministra, aquilo que as autoridades de saúde procuraram fazer foi dar um passo em frente em relação aos acontecimentos: "sabemos que para além dos cinco casos importados que temos no país, temos um deles com ligações muito fortes a um ‘cluster’, um pequeno grupo de doentes diagnosticados".
A ministra adiantou também que, dos contactos dos 412 casos que estão atualmente sob vigilância das autoridades de saúde no país, há mais de 200 que têm "ligação a um destes casos".
Para já, Marta Temido anunciou que as visitas a hospitais, lares e estabelecimentos prisionais da região Norte foram suspensas temporariamente devido à epidemia Covid-19 e recomendou o adiamento de eventos sociais.
Marta Temido disse ainda que a Escola Básica e Secundária de Idães, em Felgueiras, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e o edifício do curso de História da Universidade do Minho foram encerrados devido ao surto de Covid-19.
“Identificámos que casos recentemente confirmados como Covid-19 estiveram em instituições de ensino, elevando o risco de transmissão nessas instituições", disse a ministra da Saúde.
A ministra acrescentou que as autoridades de saúde estão neste momento a avaliar “se outras medidas serão necessárias”.
Estas medidas foram anunciadas depois de ter sido divulgada a confirmação de 21 casos de infeção com o novo coronavírus em Portugal, mais oito do que os contabilizados na sexta-feira, anunciou hoje a Direção-Geral da Saúde (DGS).
De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica em Portugal, divulgado ao início da noite de sábado pela DGS, havia 43 novos casos suspeitos, num total de 224 registados desde o início do ano, estando 47 a aguardar resultado laboratorial.
A região Norte é a que regista mais casos confirmados de infeção, com 15, seguindo-se a Grande Lisboa, com cinco, e um no Centro do país.
O mapa disponibilizado pela DGS não regista casos no Alentejo, Algarve e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
As 21 pessoas com infeção pelo Covid-19 confirmada estão hospitalizadas, de acordo com a DGS.
Destes 21 doentes, cinco resultam de importação do vírus, dos quais quatro em Itália e um em Espanha.
Um dos casos importados infetou outras nove pessoas, refere a DGS.
Relativamente à caracterização dos 21 doentes, 15 são homens e seis são mulheres, a maioria (seis homens e duas mulheres) têm entre 40 e 49 anos.
O paciente mais velho é uma mulher, com idade entre 70 e 79 anos, lê-se no boletim da DGS.
As autoridades de saúde têm 412 pessoas em vigilância por contactos com infetados.