A recente morte de um habitante do bairro do Zambujal, na Amadora, baleado pela polícia na Cova da Moura, e a onda de vandalismo que se seguiu, trouxeram para a ribalta a situação dos bairros sociais e precários da Grande Lisboa. Para reforçar a necessidade de se ajudar quem ali vive a Cáritas Diocesana decidiu assinalar o Dia Mundial dos Pobres junto da população do bairro do Zambujal, com o apoio de D. Rui Valério.
“O senhor Patriarca tomou a iniciativa de ele próprio ir celebrar a Eucaristia de domingo no bairro, com as pessoas”, diz à Renascença o almirante Luís Macieira Fragoso, presidente da Cáritas de Lisboa. A missa será celebrada domingo às 11h00, num “espaço de culto local”, já que o bairro do Zambujal não tem igreja: pertence à paróquia da Buraca.
Trata-se sobretudo de um gesto pastoral, para mostrar solidariedade e proximidade para com a população que ali vive e que tem sido notícia pelas piores razões. “É totalmente simbólico. Haverá até muitas pessoas a viver noutros sítios com menos condições, com mais pobreza. Mas como foi notícia e as pessoas sofreram, efetivamente, com toda essa situação, quisemos assinalar neste espaço que estamos com todos e que fazemos todos parte da mesma comunidade”, sublinha o almirante, que espera que a iniciativa inspire novas ações solidárias junto dos mais desfavorecidos.
“Pretendemos alertar as pessoas, porque é uma responsabilidade de todos olharmos pelos outros, particularmente para aqueles que vivem com mais dificuldades e que estão, eventualmente, em situações extremas de pobreza”.
“Não é aceitável que no mundo, e sobretudo num país que, apesar de tudo, é desenvolvido, estejam ao nosso lado pessoas que não têm o mínimo para viver decentemente”, afirma ainda, lembrando que assinalar o Dia Mundial dos Pobres se tornou “um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial". "É uma oportunidade pastoral que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades”. E é também ocasião para “reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados”.
A data instituída pelo Papa em 2017 visa combater a indiferença face ao fenómeno da pobreza, que em Portugal está longe de ser erradicada e vai ganhando novos rostos, já que há cada vez mais pessoas consideradas pobres, apesar de terem trabalho. No comunicado que anuncia a iniciativa, a Cáritas diocesana de Lisboa cita os dados da Pordata, segundo os quais “a taxa de risco de pobreza subiu pela primeira vez em sete anos, passando de 16.4% em 2021, para 17% da população em 2022, com impacto especialmente significativo entre crianças e jovens". Quase um terço das famílias monoparentais com crianças vive com menos de 591 euros mensais”, é dito.
À Renascença o almirante Luís Fragoso lembra que, pelo menos desde 2008, o país tem vivido “de crise em crise”, primeiro “com o processo da troika, depois tivemos a pandemia, a seguir tivemos a subida vertiginosa e brusca da inflação, que agora está em fase de moderação, mas que desestabilizou muito o equilíbrio entre os salários e o custo de vida. Há muitas pessoas para quem, como se costuma dizer, o mês está cada vez mais longo e o salário cada vez mais curto”.
O agravamento das condições de vida reflete-se em mais pedidos de ajuda às instituições solidárias, que também estão a passar dificuldades. “Temos vivido - presumo que outras organizações também, mas nós temos tido simultaneamente um aumento das necessidades de apoio e um aumento dos custos da nossa atividade, sem um consequente aumento do rendimento para poder suportar isso”. Luis Macieira Fragoso apela, por isso, à contribuição de todos, “para que a Cáritas de Lisboa possa ajudar as paróquias, as instituições católicas que estão no terreno, a apoiar aqueles que precisam”.
As formas de apoio podem ser consultadas no site da Cáritas Diocesana de Lisboa.