A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê uma deterioração dos indicadores de emprego em 2024 com um aumento global de dois milhões de desempregados, o que significa uma subida da taxa de desemprego de 5,1% em 2023 para 5,2% em 2024.
A OIT espera um crescimento mais fraco do emprego em 2024, devido a várias tensões geopolíticas e a condições monetárias globais mais restritivas.
A proporção de emprego na população e as taxas de desemprego estão a aproximar-se de níveis pré-pandemia na maioria das regiões. As exceções estão na Europa de Leste (que inclui Ucrânia e Rússia), América do Norte, Ásia Oriental e estados e territórios árabes fora da zona do Golfo Pérsico, como o Iémen, Iraque, Síria, Líbano, Jordânia e Palestina.
Os principais indicadores sugerem que o mercado de trabalho na Europa estabilizou. A União Europeia deve registar um crescimento moderado a médio prazo, devido à pressão inflacionista e das elevadas taxas de juro na zona euro, com impacto no consumo e no investimento das famílias. A Europa do Norte, Sul e Ocidental devem aumentar o PIB em 1,2% em 2024.
A Europa de Leste - que inclui a Rússia e a Ucrânia na mesma divisão regional definida pela OIT - recuperou da queda do PIB em 2022, devido à guerra na Ucrânia, registando um crescimento de 1,7% em 2023, por via do aumento das despesas militares da Federação Russa e a forte procura dos consumidores da Turquia, de acordo com o Banco Mundial.
Guerra trava emprego no Leste da Europa
O impacto da guerra fez-se sentir na Europa de Leste com uma "tendência decrescente" do emprego total desde 2022 e que deve continuar até 2025, de acordo com as previsões da Organização Internacional do Trabalho.
No caso particular da Ucrânia, a guerra causou "perturbações económicas, encerramentos de empresas, êxodo populacional e deslocação interna, que contribuíram para a diminuição do emprego total, da qualidade e da criação de emprego e para um aumento da informalidade".
Neste último ponto a Europa divide-se a meio. A Leste a economia informal está estimada em 19,5% em contraste com 9% na Europa Ocidental, do Norte e do Sul.
Dado a merecer análise é a diminuição da taxa de desemprego na Europa de Leste, onde também o número de horas trabalhadas tem diminuído desde 2021. No entanto, sublinha a OIT, tal deve-se à diminuição da dimensão da força de trabalho, o denominador da taxa de desemprego, muito motivada pelo envelhecimento da população e pelos fluxos migratórios. "Os dados apontam para um quadro mais sombrio do que o que seria transmitido pela queda das taxas de desemprego", alerta a OIT no relatório agora publicado.
Elogio à Europa do Sul
O desemprego jovem tem vindo a cair gradualmente na Europa desde 2000 e, recentemente, muito devido à escassez de mão-de-obra observada em vários países entre 2020 e 2023. Cerca de metade dos países europeus registaram diminuição deste indicador nos 12 meses até junho de 2023. No entanto, o aumento na outra metade da União implicou uma descida muito ligeira. Neste mês a taxa na União Europeia era de 14%, apenas 0,3 pontos percentuais abaixo do mesmo período do ano anterior.
Apoiada em dados do Eurostat, a Organização Internacional do Trabalho sublinha que algumas das maiores descidas na taxa de desemprego juvenil nos últimos anos ocorreram no Sul da Europa, apesar de continuar elevada em muitos desses países, acima de 20, como é o caso da Itália, Espanha ou Grécia.
Os gregos foram os que mais desceram o desemprego juvenil entre junho de 2022 e junho de 2023, com uma queda de mais de 8 pontos percentuais. Chipre ( menos 2,1 pp), Espanha ( com menos 1,8 pontos percentuais), Itália ( menos 1,2 p.p.) e Portugal ( menos 0,8 pontos percentuais) também registaram descidas neste período.
A OIT conclui que o reforço da chamada Garantia Europeia para a Juventude ajudou a União Europeia a melhorar o emprego jovem em contexto pandémico, funcionando como "estabilizador automático" neste domínio. O relatório sugere também que Espanha beneficiou do impacto dos novos tipos de contratos "fixos-descontínuos" em que um trabalhador pode fazer algum trabalho e continuar a receber subsídios de desemprego.
No resto da Europa, algumas subidas do desemprego jovem foram muito significativas, como na Chéquia ( com mais 6,3 pontos percentuais) e na Suécia ( 5,1 pontos percentuais) que tem agora quase 25% de desemprego jovem, segunda maior taxa da Europa. "A situação nestes países pode refletir o impacto duradouro e contínuo da pandemia nos jovens, que foram desproporcionalmente afetados pelas suas consequências", escreve a OIT neste relatório.
Foco no trabalho digno contra a pobreza
O emprego está a crescer em todas as regiões do mundo, embora muitas vezes impulsionado por crescimento da população em idade ativa. Por isso a OIT considera que o foco deve estar na qualidade do emprego e fortalecer o trabalho digno em défice há longos anos.
"Em muitas regiões as mulheres continuam a ser claramente desfavorecidas em termos de trabalho variáveis de mercado, particularmente nos Estados Árabes e no Norte de África", pode ler-se no relatório.
A chamada economia informal tem vindo a ser reduzida mas mais de oito em cada dez pessoas empregadas em África tinham empregos informais em 2023, quase dois terços na Ásia-Pacífico, e mais de metade na América Latina e no Caribe.
A pobreza extrema - medida por famílias que vivem com menos de 2,15 dólares por dia - atingia cerca de um terço da população empregada na África Subsaariana e cerca de 37% da população empregada no Sul da Ásia em 2023. Cerca de 8% da população empregada na América Latina e Caraíbas viviam abaixo do limiar de pobreza moderada, calculado em 3,65 dólares por dia por pessoa.