O volume de vendas diminuiu nos últimos meses, mas, apesar disso, o comércio ilegal de petróleo, nomeadamente para a Europa, continua, ainda que não de forma exclusiva, a ser uma das principais fontes de financiamento do Estado islâmico, o também denominado DAESH.
A tese é defendida, em entrevista à Renascença, pelo director do Centro de Investigação do Mundo Árabe, da Universidade de Mainz, na Alemanha, Guenter Meyer. O perito explica que o crude extraído dos poços das regiões controladas pelos terroristas estará a ser vendido a uma rede de contrabando, constituída por “transportadores privados”, que “passa pelas áreas curdas no Nordeste do Iraque, até à Turquia e ao porto de Ceyhan, daí seguindo, na sua maioria, para Marselha, onde entra na rede europeia de ‘pipelines’ de petróleo”.
Para Guenter Meyer, que se tem dedicado a estudar o fenómeno do terrorismo nos países islâmicos, “o que está a ser oficialmente exportado pelo governo regional curdo é bastante menos do que o que chega ao porto de Cheyan", o que demonstra, "de forma bastante clara, que uma quantidade significativa do petróleo dos territórios ocupados pelo Estado Islâmico está a entrar, desta forma, na Turquia e noutros países”.
Cortar esta rede e impedir o financiamento do DAESH será fundamental para enfraquecer o movimento terrorista, defende Meyer. Além do petróleo e dos impostos e multas aplicados às populações sob domínio dos terroristas islâmicos, o especialista identifica também nos países europeus uma importante fonte de financiamento destes grupos: “Nos países europeus, existem inúmeras organizações muçulmanas que recolhem dinheiro, alegadamente para apoiar os que sofrem com esta guerra. E muitas destas organizações não estão a financiar as pessoas em dificuldades na Síria, mas sim a transferir este dinheiro para o Estado Islâmico”. O investigador conclui que, perante estas circunstâncias, “será muito difícil controlar este fluxo de dinheiro, mas, pelo menos, será possível reduzi-lo”.
Fonte de financiamento pode secar
O financiamento, durante o período de expansão do Estado Islâmico, provinha dos assaltos e dos resgates pedidos pelos raptos., mas essas são fontes que têm vindo a ser reduzidas de forma significativa.
A tese é partilhada pela especialista em Ciência Política da Universidade da Califórnia Cecilia Farfán, investigadora em áreas como o crime internacional e transnacional. Em entrevista à Renascença, Farfán sublinha que esta rede de contrabando de petróleo já existia antes do surgimento do DAESH e da Al-Qaeda no Iraque.
Esta é uma forma de financiamento que tende a perder algum peso, na medida em que “diversas companhias de exploração de petróleo estão a retirar o seu equipamento e os seus profissionais das zonas em questão, ao mesmo tempo que as operações aéreas levadas a cabo pela coligação internacional têm conseguido destruir refinarias e atingir colunas de veículos que transportam o petróleo”.
De acordo com Cecilia Farfán, o petróleo produzido nas zonas controladas pelo DAESH é, cada vez mais, "de má qualidade”, o que torna, também, a sua venda pouco rentável. A esta realidade junta-se o facto de o preço do crude no mercado estar em baixa.
Para a especialista, que é, também, investigadora da consultora internacional Trends, “a verdade é que acabam por ser os intermediários, os responsáveis pelas redes de contrabando que compram o petróleo ao DAESH, os principais beneficiários deste negócio, porque o adquirem a baixo preço e o vendem por elevados valores”.