As escutas no processo que investiga negócios de lítio e hidrogénio e o data center de Sines não comprometem Lacerda Machado nem o primeiro-ministro, disse esta quinta-feira Magalhães e Silva, advogado do amigo de António Costa e arguido neste processo.
À saída do Tribunal Central de Instrução Criminal, no Campus de Justiça, em Lisboa, onde esteve ao longo de todo o dia a ouvir as escutas que constam do processo, o advogado de Diogo Lacerda Machado, Manuel Magalhães e Silva, disse que estas "não comprometem" nem o seu constituinte nem o próprio primeiro-ministro, acrescentando que não "foram novidade nenhuma" face ao que já conhecia das transcrições na indiciação do Ministério Público (MP).
Insistiu que as escutas não revelam quaisquer pressões de Lacerda Machado sobre o primeiro-ministro ou outros arguidos, mas sim "intervenções que se tornam necessárias quando as coisas param para que possam ser retomadas ou para que andem mais depressa", o que "não tem nada de irregular" e "é normalíssimo".
Segundo a indiciação, a que a agência Lusa teve hoje acesso, os procuradores sustentam que os contactos feitos junto do primeiro-ministro por Diogo Lacerda Machado, advogado e seu amigo, e Vítor Escária, agora ex-chefe de Gabinete de António Costa, "visaram e lograram" a aprovação de um diploma "o mais rapidamente possível e com um normativo favorável aos interesses" da Start Campus, sociedade ligada ao projecto Datacenter de Sines e arguida no processo.
"O MP escreve o que entende, o papel suporta tudo, simplesmente não há nada que revele que tenha havido quaisquer pressões do doutor Lacerda Machado sobre o António Costa. Zero. Zero absoluto. [...] O primeiro-ministro é sempre nestas coisas do Governo uma espécie de papa e, portanto, tem a distância própria do papa e tinha obviamente o interesse neste projeto pela magnitude e importância que tinha para Portugal", disse Magalhães e Silva.
Sobre a investigação autónoma que corre no Supremo Tribunal de Justiça à intervenção do primeiro-ministro neste processo ironizou: "Vamos ver o resultado do inquérito do Supremo para depois nos rirmos um bocadinho".
Recusou ainda "fazer um bicho de sete cabeças" das escutas sobre alterações de decisões de entidades públicas, afirmando que "nada no domínio da administração pública, a não ser quando estejam em causa interesses de terceiros, tem esse caráter definitivo", e que as alterações podem existir "se o interesse público o justificar".
Também Tiago Rodrigues Bastos, advogado de Vítor Escária, ex-chefe de gabinete de António Costa, disse à saída não ter encontrado nada de comprometedor nas cinco horas de escutas.
Manifestou a disponibilidade dos advogados para que os interrogatórios possam decorrer durante o fim de semana, tendo em conta que há arguidos detidos, e Magalhães e Silva adiantou ser muito provável que haja interrogatórios no sábado.