Feitas as contas, continuam a ser 230 deputados, mas há agora dez partidos - nunca foram tantos na Assembleia da República.
No meio dos 5.092.424 votos registados, há tendências a apontar. Cumpre-se a tradição eleitoral da Renascença. São as eleições legislativas de 2019 em números.
4.250.660 escolheram não escolher
Nova eleição, novo recorde de abstenção. Já é quase uma tradição legislativa portuguesa.
Apesar dos apelos presidenciais, das campanhas institucionais e outros que tais, a taxa de abstenção voltou a subir e bateu um novo recorde: está agora nos 45,5%.
Significa que 4.250.660 portugueses escolheram não ir às urnas. É certo que o recenseamento automático veio baralhar as contas, já que este ano havia mais 1,1 milhões eleitores do que nas anteriores legislativas.
Olhemos para a percentagem. Quase metade dos portugueses habilitados a votar decidiram não fazê-lo.
Um, dois três, é a queda do 'centrês'?
O resultado da abstenção pode ter sido o recorde, mas a notícia está na eleição de mais três novos partidos para a Assembleia da República. É o Parlamento mais diverso de sempre, com dez partidos representados, batendo-se assim o recorde de nove partidos em 1980.
Alguns falarão de um Parlamento mais fragmentado. Mas se olharmos para os dados, é apenas a confirmação de uma constante perda de poder do PS e do PSD no Parlamento. Entre 1991 (ano em que a Assembleia passou a ter 230 deputados) e 2019 , e se assumirmos que os quatro deputados que faltam atribuir serão para o PS e para o PSD, o chamado "centrão" perdeu 20 deputados.
O valor até subiu um pouco com este novo Parlamento (em 2015, eram 175 deputados destes dois partidos; este ano serão 187). Mas a tendência é de perda de força do chamado “centrão”.
36,65%. O mapa cor de rosa que não é bom nem mau. É assim-assim
Depois de uma campanha atribulada – quer seja pelo caso Tancos, quer seja pelo episódio com popular no fecho da campanha - António Costa chegou à sala do Altis a saber que era um dos vencedores da noite. Ouviu os parceiros da “geringonça” apresentar o seu caderno de encargos e respondeu com um adicionar de peças à geringonça, lançando um convite ao PAN e ao Livre.
É a primeira vitória legislativa de Costa, mas não é uma maioria absoluta, como muitos no PS desejavam. Nem, muito menos, o melhor dos resultados socialistas. Se olharmos para a tabela da prestação eleitoral do Partido Socialista (e se com isso excluirmos o resultado de 1980, quando Mário Soares correu pela Frente Republicana e Socialista) este é o sexto melhor resultado socialista – mesmo ali, no meio da tabela.
O melhor registo socialista continua a pertencer a José Sócrates, que conseguiu 45,03% dos votos, e o pior a Almeida Santos, com 20,77%.
Independentemente disso, Costa já não precisa em exclusivo de BE e CDU para governar. Agora, é pegar na régua e esquadro e desenhar a nova geometria parlamentar.
Quarto a contar do fim não é uma hecatombe?
"Não foi a hecatombe do PSD”, disse Rui Rio na reação aos resultados.
É o copo meio cheio do líder dos sociais-democratas. O PSD chega aos 27,9% e elege 77 deputados (79, se os círculos da emigração lhe atribuírem dois deputados, como é tradição). São menos 10 deputados do que aqueles que o PSD conseguiu eleger quando correu como PàF (Portugal à Frente), junto do CDS.
Se olharmos para a bancada laranja desde 1991 – ano em que o Parlamento passou a ter 230 deputados – este é o segundo menor número de deputados do PSD no hemiciclo.
É, do ponto de vista percentual, o quarto pior resultado do PSD quando este partido correu sozinho às legislativas.
Pior só mesmo o resultado de Sá Carneiro em 1975 e em 1976 (26,39% e 24,35%, respetivamente) e os 27,24% de Mota Pinto, em 1983.
Cinco deputados é uma hecatombe
O grande derrotado da noite – com direito a saída da líder e tudo – é o CDS-PP. O partido que já chegou a ter 46 deputados volta a ser o "partido do táxi". Elege cinco deputados, os mesmos que tinha em 1991.
Em Lisboa, o CDS fica mesmo atrás do PAN – mesmo que seja por 34 votos.
A derrota eleitoral de Cristas, que até já tinha dito que queria ser primeira-ministra, forçou-a a demitir-se. Há agora uma disputa interna dentro do CDS-PP. E já começamos a ter nomes e tudo.
19 e 12. O sabor agridoce da "geringonça"
Também à esquerda, os resultados souberam a “poucochinho”. Depois de quatro anos em juras de estabilidade e responsabilidade, o Bloco de Esquerda sai igual da “geringonça”. Repete os 19 deputados de 2015.
Catarina Martins apresentou o caderno de encargos para uma nova "geringonça". Um apoio do Bloco chega para garantir a governação socialista, mas a verdade é que, com a nova geometria parlamentar, o seu apoio deixa de ser vital.
Na CDU, o resultado soube a derrota. A CDU igualou o pior resultado de sempre em legislativas, elegendo 12 deputados. Foi o único partido que perdeu votos com a "geringonça" e Jerónimo de Sousa parecia consciente disso. Acordo escrito com os socialistas não parece querer – mas a verdade é que os socialistas também deixaram de precisar da CDU em exclusivo para governar.
João, João, és novo por cá? 94 estreias
Feitas as contas, os 5.092.424 votos registados deram 94 caras novas ao Parlamento. Se excluirmos os três novos partidos, é no PSD que vamos ter mais caras novas. As contas da Renascença apontam para 44 novos rostos.
E, se for do tipo de eleitor que vê a ARTV com frequência, vai ter de se habituar a um nome: João. É o nome mais popular nesta nova legislatura, com um total de 17 deputados a carregá-lo.
Ainda não conhece o novo Parlamento? Nós tratamos disso.
218 mil protestos
Se os votos brancos/nulos fossem um partido, teriam melhor resultado do que o CDS-PP e o PAN. Somados, os dois tipos de votos que não contam para a abstenção mas que também não ajudam a eleger ninguém, chegaram aos 218 mil.
De acordo com os dados oficiais, mais de 129.500 mil pessoas votaram em branco nas eleições legislativas e os votos nulos foram superiores a 88.500.
É preciso recuar à eleição de Cavaco Silva para encontrar um valor mais alto de votos nulos.