Irmã Generosa. A religiosa espanhola amada pelos portugueses no Cubal
05-01-2022 - 06:45
 • Liliana Carona

“Olho para as crianças e digo-lhes: vocês são o futuro de Angola”, afirma a religiosa, que está na antiga colónia portuguesa há várias décadas. Passou pelas guerras colonial e civil e resgatou muitas vidas, com cuidados médicos, alimentos e apoio espiritual.

Os portugueses que deixaram o município do Cubal, em Angola, por causa da guerra colonial, ainda hoje recordam a irmã Generosa. Os poucos que lá ficaram continuam a partilhar nas redes sociais o apoio inestimável de uma irmã espanhola da Companhia de Santa Teresa de Jesus, que cedo abandonou Pamplona para se dedicar à erradicação da pobreza em Angola, até aos dias de hoje.

Generosa Iturri Aldaba, nome completo da irmã Generosa, 92 anos de idade. Acorda cedo para tomar conta de um aviário que serve de sustento aos mais carenciados da comunidade do Cubal, em Angola.

“Eu estou contentíssima, muito agradecida a Deus com os meus 92 anos, passo a manhã no aviário”, relata, salientando a motivação que a impulsiona. “Não temos dinheiro para comprar comida, que sobe tanto e está a paralisar o nosso trabalho, mas Deus ama muito os pobres e o nosso trabalho é para os pobres”, apressa-se a realçar.

Com 264 mil habitantes, o município do Cubal, na província de Benguela, tem enfrentado períodos de seca extrema.

“Temos muitas dificuldades aqui no Cubal, é uma terra onde chove pouco, só uma sementeira produz, tudo seca. Tem poucas chuvas, é um lugar pobre, pobre em agricultura, a chuva é muito irregular. Como há muita fome, há muito roubo”, lamenta a religiosa, que todos os dias recolhe os ovos do galinheiro “para autossustentabilidade da obra, mas não é fácil”. Todavia, a irmã Generosa conclui: “é um ambiente muito bonito, é uma família”.

“A irmã mata a fome a muita gente, merecia uma estátua”

Natural de Pamplona, há mais de 60 anos que deixou Espanha, depois de ter abraçado a vocação aos 22 anos. É ela o rosto mais conhecido da Missão Católica do Cubal, fundada em 1973.


Nas redes sociais multiplicam-se as homenagens à irmã Generosa. Eduardo Dinis Chaves, 70 anos, natural de Tondela, mas a residir desde 1952 no Cubal vai partilhando com os amigos de Portugal notícias deste município africano.

“A irmã Generosa, pelo que fez no Cubal ao matar a fome a muita gente, merecia uma estátua. Sinceramente, nunca vi pessoa igual e com esta idade”, salienta Eduardo.

O emigrante português recorda os primórdios do trabalho da religiosa. “Dou muito valor à irmã Generosa, porque a conheço há mais de 40 anos, quando ela chegou ao Cubal, vinda da Quibala (Kuanza Sul). Ela primeiro fazia trabalho de enfermeira e safou muita gente, porque na altura não havia medicamentos, só a Missão Católica tinha. Depois passou a ser logística e matou a fome a muita gente, só Deus sabe, caso contrário muitos morreriam à fome. Ainda hoje a vida dela é ajudar os mais necessitados com comida e roupas. Enfim só Deus sabe o que ela tem feito. Tenho uma filha, a Vanda, que hoje é médica, quando tinha apenas 1 ano esteve gravemente doente e foi a irmã Generosa que a salvou”, recorda.


Eduardo desabafa que optou por permanecer no Cubal, mas está de coração apertado. “Esta não é a Angola que sonhei. A miséria que vejo em 60% da população…”, observa. Apenas dois portugueses vivem no Cubal.

Ninguém trabalha sem estar matriculado na escola

A irmã Generosa responde aos elogios que lhe tecem, com admiração. “Não sei porque gostam tanto de mim, mas tratamo-los como se fossem minha família. Não deixo entrar ninguém para trabalhar que não esteja matriculado na escola, olho para as crianças e digo-lhes: ‘vocês são o futuro de Angola’, e alguns saem com notas estupendas”, conta. E o esforço compensa. “Já saíram advogados” daquela missão.

No percurso vocacional iniciado aos 22 anos, a irmã Generosa lembra a causa que sempre a acompanhou. “Esta vocação, sempre gostei de trabalhar com os pobres, e em pequena vivia com a minha mãe e já ajudava os pobres. Para o casamento não tenho vocação, eu gostava de ser consagrada a Deus e trabalhar com os pobres”, sublinha.

Com a irmã Generosa trabalham mais seis irmãs na Missão Católica do Cubal, A irmã Arminda, 60 anos, faz o retrato à distância de uma videochamada. “Temos o hospital, a escola, um campo de cultivo e a obra social de S. José onde atendemos os velhos abandonados, crianças em idade escolar, algumas órfãs. Fazem todos aqui as refeições”, destaca.

Arminda enaltece o esforço de Generosa. “Ela viveu todo o tempo de guerra, aumentou o hospital para os tuberculosos, foi fundadora da obra social, tem quase 93 anos e nunca deixou de trabalhar em prol dos necessitados. Generosa foi um nome muito bem atribuído”, diz a Irmã Arminda.

Para apoiar a Missão Católica do Cubal “qualquer ajuda, podem canalizar para a casa de Lisboa, a nossa Casa Teresiana e as Irmãs nos enviam”, explica.