O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes admite que Bruxelas poderá aplicar sanções a Portugal, ainda que sem consequências práticas. O comentador do programa “Fora da Caixa” diz não acreditar que nada aconteça, sobretudo após escutar posições enunciadas nas últimas semanas por diversos sectores europeus.
“Obviamente não o desejo mas tenho receio de que [as sanções] possam mesmo acontecer embora sem consequências práticas. Um estilo de suspensão da sanção, um pouco como uma “pena suspensa”. A questão de princípio fica salvaguardada, enuncia-se que este caminho exige uma sanção mas dá-se o crédito de que os esforços estão a ser feitos. Fica por aplicar e será aplicada se não arrepiar caminho”, prevê o antigo líder do PSD na Renascença.
Santana Lopes leu as polémicas declarações do Ministro das Finanças da Alemanha - anunciando e desmentindo um segundo resgate a Portugal - como “um deslize do que poderá ser até uma vontade escondida”. Representa a vontade de uma “ala europeia mais dura ” onde Santana inclui o presidente do Eurogrupo, mais implacável com violações de compromissos dos tratados ou desvios orçamentais. “ Numa fase de alguma desorientação na União Europeia surgem declarações infelizes”, acrescenta Santana.
Saldo positivo para Portugal
A decisão de aplicar (ou não) sanções a Portugal e Espanha por incumprimento das metas do défice orçamental ficou adiada para o momento seguinte ao referendo britânico sobre a União Europeia e às eleições espanholas. Para Santana Lopes “o saldo global não joga contra Portugal”.
“Uma Europa muito afinada, com tudo na ordem e sem Brexit, com tudo a correr bem, teria mais força para ser mais exigente com Portugal. Agora não a tem. Por outro lado, não poderá falar muito de alto com Rajoy em Espanha. Apesar não haver governo com maioria absoluta, Rajoy não saiu debilitado. Admito que o facto de Rajoy ter sobrevivido e ter alguma força, mesmo com impasse, e a UE não querer prejudicar as negociações para surgir um novo governo possa jogar a favor de Portugal. Por isso digo que o saldo não é contrário aos interesses de Portugal”, argumenta o actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Um português a negociar o Brexit?
Santana deixa ainda a sugestão de incluir um diplomata português na equipa negocial europeia com o Reino Unido, pelo peso da histórica proximidade entre Londres e Lisboa. “A Europa tem que aproveitar os seus bons activos, as suas riquezas e nomeadamente uma história multissecular. Depois da saída do Reino Unidos, Portugal é o membro da União Europeia mais atlântico e mais próximo dos Estados Unidos”.
Numa análise aos resultados das eleições espanholas, o antigo presidente do PSD elogia a resistência do líder do Partido Popular Mariano Rajoy e acredita que, apesar dos maus resultados, o secretário-geral dos socialistas sobreviveu e ganhou fôlego para mais meio mandato.
“Vamos ver como é que ele gere esta relação com o futuro governo. Ainda não se viu uma grande capacidade política em Pedro Sanchez. Mas acho que ele ganhou um ‘wild card’ para mais dois anos de liderança. Não excluo que a sua oposição, principalmente Susana Diaz, da Andaluzia - que também perdeu - o comece também a incomodar”, observa Santana Lopes.
A anedota das sondagens
O comentador do programa “Fora da Caixa”, crítico do peso das sondagens na vida política, não deixa de assinalar mais um falhanço dos estudos de opinião. E remata: “No Reino Unido foi uma anedota e em Espanha foi um desastre. Falharam por larga margem. Estão a falhar e a fazer mal à democracia. Isto contribui um pouco para alterar a normalidade democrática. Há impulsos de ultima hora que levam os eleitores a reagir face à iminência que eles não tinham por provável. O PP não terá beneficiado quando diziam que o Podemos vai passar o PSOE?”.