A edição deste ano do Festival Internacional de Marionetas do Porto 2023 (fimp’23) vai debruçar-se sobre a temática “Memória, imagem e manipulação”, fechado que está o ciclo temático versado das três últimas edições com o mote as “Ciências e Políticas da Matéria Animada”.
De 6 a 15 de outubro, vai ser esta a "matéria filosófica" a presidir à dinâmica estrutural da programação. Este mesmo conceito vai tutelar a extensão programática do festival em Aveiro, no próximo mês de novembro.
“A edição deste ano tem como ponto de partida um conjunto de ideias, concretamente a memória, a imagem e a manipulação. É um pouco a partir delas que a programação se estrutura”, explica à Renascença o diretor artístico do festival, Igor Gandra.
“São três ideias, três conceitos que são de alguma forma matriciais nesta linguagem do teatro de marionetas e das formas animadas e objetos. E, ao prepararmos o festival há cerca de um ano e tal, fomos descobrindo que uma parte das propostas refletiam sobre estas ideias”, acrescenta.
“A experiência subjetiva da vida a acontecer, num mundo sempre em movimento, inspirou a montagem de alguns dos espetáculos que se apresentam.” O responsável sustenta ainda que “lembrar e esquecer, evocar e reconstruir, atualizar – tudo isto são funções da memória que operam a partir da criação e da manipulação de imagens.”
Na abertura, na sexta, 6 de outubro, o destaque vai para "Armazém 88", uma peça em “estreia absoluta”, que se insere nas comemorações do 35º aniversário da companhia fundada por João Paulo Seara Cardoso e à qual a sua companheira de vida, Isabel Barros, deu sequência após o seu desaparecimento há quase 13 anos.
A peça vai decorrer no Teatro Rivoli. “É um espetáculo em relação ao qual temos muita expectativa e muita vontade de ver”, diz Igor Gandra.
"Propostas desafiadoras"
Também no primeiro fim de semana, da companhia neerlandesa Hotel Modern, vai decorrer a peça “Our Empire”. “Eles misturam de uma forma muito especial o teatro de marionetes e objetos com o cinema. No fundo, é um espetáculo e um filme que é rodado em tempo real, em que falam sobre o império colonial holandês, a partir da história da família de um dos artistas em palco”, explica o diretor artístico. A ver no Teatro Municipal do Porto, no Campo Alegre, no dia 7 de outubro, às 21h30.
Outra peça que Igor destaca é a “El Mar - visión de unos niños que no lo han visto nunca”, da dupla Xavier Bobés e Alberto Conejero López. No Teatro Carlos Alberto, vai ser contada a história de um professor que, nos anos 30, numa aldeia da Espanha profunda, na zona de Burgos, se propõe a ensinar as crianças a ler e a escrever através de métodos pedagógicos revolucionários. “É uma história verdadeira, parte dos documentos reais e o espetáculo é a manipulação desses documentos. É uma peça muitíssimo bonita”, destaca o diretor.
O fimp é um festival que tem uma característica que “é muito motivadora para quem nele trabalha”- ocupar um lugar “um bocadinho especial junto do nosso público, na medida em que há sempre uma grande curiosidade em relação às coisas que trazemos a cada edição”.
“As nossas propostas são sempre um bocadinho desafiadoras. Há a tentativa e o desejo de mostrar aquilo que de mais inovador, mais disruptivo se faz, seja em Portugal ou noutros países”, refere Igor Gandra. “As nossas expectativas são sempre elevadas em relação à curiosidade que as propostas despertam no público”.
Este ano, o festival foi até outras paragens e teve acolhimento por parte do Teatro Aveirense. A peça “Negative Space” decorre a 5 de novembro, às 19h00. “Isto poderá continuar a acontecer, mas nós temos uma perspetiva de crescimento muito sustentada, preferimos dar primazia à qualidade em detrimento da quantidade”, conclui.
Veja o programa completo do fimp’23 aqui.