O Papa Francisco diz-se disponível para dialogar com qualquer país em guerra, “mesmo que país seja com o agressor”.
Falando aos jornalistas sobre o conflito na Ucrânia, a bordo do avião papal onde regressou da viagem de três dias ao Cazaquistão, Francisco defendeu que, por mais difícil que seja, é fundamental “dar oportunidade de diálogo a todos, porque no diálogo há sempre a possibilidade de as coisas poderem mudar”.
“Às vezes, cheira mal, mas deve-se fazer”, rematou o Papa.
Após uma visita papal em que a paz, sobretudo na Ucrânia, esteve no centro da maior parte das intervenções, Francisco admitiu ser “moralmente aceitável” o fornecimento de armas a uma nação para que ela possa exercer o seu direito à legítima defesa.
“Esta é uma decisão política que pode ser moral, moralmente aceitável, mas que pode ser imoral se a fazem com a intenção provocar mais guerra ou de vender mais armas. A motivação é o que, em grande parte, qualifica a moralidade deste ato.
Defender-se, não só é lícito, mas é expressão de amor à pátria”, afirmou o Papa.
“Política em Itália? Não a percebo”
Do particular para um plano mais geral, Francisco fez considerações sobre a qualidade da política na Europa.
O ponto de partida foi uma pergunta sobre as eleições em Itália, marcadas para 25 de setembro, e o facto de as sondagens apontarem para uma vitória expressiva da coligação de centro-direita, liderada pelos ultranacionalistas de Giorgia Meloni.
“Política em Itália? Não a percebo: 20 governos em 29 anos é um pouco estranho, mas cada um dança o tango à sua maneira”.
Para o Papa, as lideranças europeias deviam “manter o nível da alta política, não a política de baixo nível que não ajuda nada e até derruba o Estado e empobrece-o”, respondeu o Papa que salientou que os políticos europeus deviam dar mais atenção a questões como a demografia, o desenvolvimento industrial e natural e os problemas dos migrantes”, disse.
Nicarágua. Expulsão de Núncio Apostólico e de missionárias é “um gesto que não se percebe”
Noutro plano, Francisco voltou a exprimir preocupação com a situação que se vive na Nicarágua.
Em causa está a expulsão do Núncio Apostólico e de 18 missionárias da ordem religiosa fundada por Madre Teresa de Calcutá que acabou por ser o culminar da tensão crescente entre a Igreja Católica e o governo daquele país da América Central.
“Um gesto que não se percebe”, afirma o Papa que, contudo, assegura que “há diálogo” com o executivo liderado por Daniel Ortega, “mas isso não significa que se aprove tudo o que o Governo faz”.
Francisco lembra que o diálogo resulta da “necessidade de resolver os problemas” e faz votos para “que as Irmãs das Madre Teresa de Calcutá regressem”.
“Estas mulheres são boas revolucionárias, não fazem guerra a ninguém”, lembrou.
Próximas viagens em preparação
No final da viagem entre Nursultan e Roma, o Papa confirmou a vontade de visitar o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo e anunciou, ainda, que estão em curso os preparativos para uma viagem ao Bahrein, em novembro deste ano.