A Frente Nacional de Resistência do Afeganistão garante que os combates continuam no vale de Panshir e que os talibãs não controlam a região. Ali está o vice-presidente eleito do Afeganistão, o que torna a zona ainda mais apetecível, considera a investigadora Maria João Tomás.
“Amrullah Saleh é tajique e foi para lá fazer resistência aos talibãs quando o Presidente, Ashraf Ghani, fugiu”, em 15 de agosto.
“Portanto, o único vice-presidente eleito, a única pessoa eleita pelos afegãos, que tem legitimidade para estar à frente do Afeganistão, está no vale do Panshir”, destaca a professora universitária especialista em Médio Oriente.
São os tajiques que habitam este vale de muito difícil acesso. “É um vale rodeado por montanhas e que conta com um desfiladeiro principal de acesso. Quem conhece bem, consegue resguardar-se e ver bem o inimigo. E é onde está uma das etnias que faz face e se opõe aos talibãs, que são os tajiques”, explica.
Além do mais, abriga o vice-presidente do país. “Os talibãs são quem tem, de facto, o poder, mas quem foi eleito está lá ainda. Era o local que faltava”, diz a investigadora.
Mas como conseguirá esta região resistir?
Tudo depende dos apoios que conseguir. Há interesses vários na zona, explica Maria João Tomás. Segundo a investigadora, Paquistão e Índia sempre apoiaram a Aliança do Norte.
Porquê? “O Paquistão é uma potência nuclear e a Índia também. Se o Paqiustão conseguir ter o Afeganistão controlado, temos um Paquistão muito mais forte e com o Afeganistão do seu lado – porque na altura em que estavam lá as tropas norte-americanas, o Afeganistão não estava propriamente do lado do Paquistão”, explica a investigadora.
“Se o Paquistão conseguir ter o Afeganistão apaziguado, é uma posição de força perante uma Índia”, país vizinho e com quem as relações nunca foram pacíficas. E as movimentações paquistanesas já começaram.
Outro país com interesse na região é a China, por causa do corredor económico chinês. Além disso, “a China tem interesse nos metais que o Afeganistão tem”. O país “é muito rico em pedras raras, é muito rico em lítio, em cobre, em prata, ouro e também tem gás e petróleo”.
Assim, de um modo geral, existe um interesse por parte dos países próximos e aliados em evitar uma guerra civil no Afeganistão.
“Vamos ver agora os Estados Unidos como é que se vão posicionar. De certa forma, era importante que a Aliança do Norte tivesse estes apoios, porque sozinha não vai conseguir”, pois “o vale é muito inóspito, de muito difícil acesso e se não tiverem apoios de fora ficam encurralados no meio das montanhas”, acrescenta Maria João Tomás.
Por outro lado, os “talibãs já disseram que a aliança que têm com a China é fortíssima”, dado que será Pequim a salvá-los dos embargos europeus já prometidos.
À espera de Panshir para formar Governo?
Até agora, os talibãs ainda não apresentaram um Governo. “Há ideia de fazerem um Governo como no Irão, onde haja um representante de cada etnia”, diz a professora universitária.
A especialista em Médio Oriente considera que os talibãs poderão estar à espera de conquistar Panshir para incluir também a etnia tajique.
O vale do Panshir situa-se cerca de 80 quilómetros a norte de Cabul, capital afegã, é representa o último reduto da oposição contra as forças talibãs, que tomaram o poder do país durante a fase final da retirada das forças norte-americanas.