Portugal, e a Europa, continuam a pagar muito menos às mulheres do que pagam aos homens. Os dados publicados pela Pordata esta segunda-feira, no Dia Internacional da Mulher, mostram que, apesar de avanços nos últimos anos para reduzir a desigualdade salarial, as mulheres continuam a ganhar menos e a ter menos emprego – e, quanto o têm, muitas vezes têm de aceitar horários reduzidos.
Em 2020, a taxa de desemprego das mulheres foi de 7,1%, enquanto que a dos homens foi de 6,5%. A diferença, apesar de tudo, é muito mais pequena do que há 38 anos, quando a diferença entre os dois sexos neste indicador era de 7 pontos percentuais.
Mas a inatividade laboral não significa inatividade familiar. Os dados demonstram que um quarto das mulheres "inativas" não tem emprego devido às responsabilidades familiares. Uma justificação que, por contraste, só foi apresentada por 4% dos homens em situação de inatividade.
E entre as mulheres que têm emprego, 13% trabalham em regime parcial, enquanto que nos homens esse valor desce para 8%.
No fim do mês, os homens ganham em média mais 11% do que as mulheres, indica a Portata.
Os dados mostram que Portugal foi o terceiro país da União Europeia que mais reduziu essa diferença nos últimos cinco anos.
Na Europa, é o 8.º país com uma menor desigualdade salarial, numa lista liderada pelo Luxemburgo.
Não há nenhum país na Europa em que as mulheres ganhem mais do que os homens.
Mulheres em maioria na justiça e medicina
Olhando para algumas áreas em particular, a Pordata distingue especificamente a segurança, a saúde e a justiça. E é no primeiro ramo que a disparidade entre homens e mulheres é mais assinalável.
Em 2018, existiam mais de 46 mil polícias em Portugal. Desses, cerca de 92% eram homens. É uma tendência que vigora desde 2008, quando os primeiros dados foram disponibilizados: houve sempre mais de 90% de homens nas forças policiais.
Na Justiça, enquanto que antes havia mais homens advogados e magistrados, ambas as profissões passaram a ter uma maioria composta por mulheres em 2006 e 2007, respetivamente.
Em 2019, havia 18.365 advogadas, cerca de 55,15% do total nacional. Na magistratura, dos 1.734 magistrados, 1.071 (61,8%) eram mulheres. Unindo as duas profissões, há seis vezes mais mulheres a trabalhar na Justiça do que no início dos anos 90.
Na Saúde, o número de mulheres médicas também tem vindo sempre a subir nas últimas décadas, e as doutoras estão agora em maioria. Dos 55.432 médicos em atividade em 2019, 30.922 (55,8%) eram mulheres.
E na política? Apesar de haver mais mulheres e de estas serem melhor formadas, continua a haver menos mulheres do que homens na Assembleia da República, mas o número tem crescido muito.
Depois das eleições legislativas de 2019, o Parlamento atingiu uma representação recorde no número de mulheres: 91. Quase de quatro em cada dez deputados são mulheres (39,57%). Uma representação afetada pela lei da paridade, segundo a qual os partidos devem ter uma representação mínima de 40% de cada um dos sexos (apesar de apenas PEV e CDS-PP obedecerem).
Mulheres salvam meta do abandono escolar
As mulheres há muito que ultrapassaram os homens na educação e formação superior, uma situação semelhante em toda a Europa. Segundo a Pordata, as mulheres ultrapassaram os homens em matrículas no Ensino Superior em 1986, e no número de doutoramentos em 2006.
Em 2020, dos 396.909 alunos inscritos no ensino universitário e politécnico, 214.731 são mulheres, o que equivale a cerca de 54% do total.
A percentagem de mulheres sobe para 58% quando se conta todos as pessoas com um diploma de doutoramento (pouco mais de 83 mil).
Mesmo fora do ensino superior, há mais mulheres com ensino secundário concluído do que homens. Se em 1992, apenas um quinto (20%) dos estudantes dos dois sexos tinham concluído o ensino secundário, em 2019 mais de 56,1% das mulheres tinham feito o 12.º ano (em comparação com 47% dos homens).
Estes dois indicadores acabam por se traduzir numa percentagem muito menor de mulheres que abandona a escola antes de concluir os estudos, em relação aos homens. Cerca de 12,6% dos homens não concluiu os estudos, enquanto que nas mulheres esse valor cai para 5,1% e são as mulheres as principais responsáveis por Portugal atingir a meta de 10% de taxa de abandono escolar definida para 2020 (desceu para 8,9%).
No emprego na área educativa, homens e mulheres dividem-se nos diferentes níveis de ensino. Em 2019, as mulheres dominaram na percentagem de docentes do ensino pré-escolar (99,1%), básico do 1.º ciclo (86,9%), 2.º ciclo (71,9%) e 3.º ciclo e secundário (71,7%).
Já no ensino superior, em 2018 os homens “ganharam” às mulheres, tanto no ensino universitário (57,1%) como no politécnico (51,4%).
85% dos pais solteiros são mulheres
Como vimos no início, as responsabilidades familiares são um grande fator no emprego e no salário das mulheres. E os dados demográficos analisados pela Pordata demonstram que as famílias monoparentais são, numa esmagadora maioria, compostas por mulheres.
Mais de 8 em cada 10 adultos a viver sozinhos com crianças ou filhos não ativos (até aos 25 anos) são mulheres. Entre 2005 e 2019, o número de famílias monoparentais subiu de 107 mil para 189 mil, um aumento de 76% ao longo de 14 anos.
Portugal está a meio da tabela da União Europeia neste indicador, em 14.º lugar dos 27 países da União Europeia. As mulheres estão sempre em maioria quando se fala em famílias de um só adulto. Os países mais “equilibrados” são a Suécia e a Estónia, onde as mulheres são o adulto em “apenas” 70% das famílias monoparentais.
O número de mães solteiras também aumentou exponencialmente nos últimos anos, mas os dados da Pordata fazem a distinção entre crianças que nasceram de mães solteiras que vivam com os seus cônjuges, e mães solteiras que não coabitavam com os pais das crianças.
Em 2019, nasceram 86.579 bebés e mais de metade era filho de pais não casados (49.140). Desses, 15.977 são filhos de mães solteiras que não coabitam com os pais (cerca de 18% do total nacional).