Sacerdote da Diocese do Porto e professor de Teologia Moral da Universidade Católica, Jorge Cunha afirma que “o que está a acontecer [na Faixa de Gaza] não dignifica Israel”.
“Israel não devia aproveitar a situação que lhe ocorreu de agressão imprevista e desmedida para limpar o povo palestiniano, ou a fação beligerante do povo palestiniano”, defende, em entrevista à Renascença.
O sacerdote e professor universitário lamenta que “Israel, sendo um povo com especiais responsabilidades morais na escuta do divino e na escuta da moral de Deus, aproveite esta ocasião para se comportar como alguém que não tem essa responsabilidade”.
O especialista em teologia moral lembra que, “mesmo no antigo testamento, há uma alusão à contenção da violência e à negação moral da possibilidade da vingança” e dá o exemplo do Livro dos Genesis, “quando Deus defende o culpado, colocando um sinal em Caim para ninguém o matar, mesmo sendo ele um culpado”.
“Aí há uma clara alusão à grandeza moral da limitação da violência e da negação da possibilidade da vingança”, reforça o padre Jorge Cunha.
“O povo palestiniano fez uma ação indefensável, mas Israel não a devia aproveitar para manifestar este desejo de vingança”, reforça, em referência à ofensiva lançada pelo Hamas contra o Estado hebraico por ar, terra e mar a 7 de outubro.
Nestas declarações à Renascença, o professor de teologia moral aplaude o comportamento da Organização das Nações Unidas (ONU) e, em particular, do seu secretário-geral, António Guterres, “na defesa dos direitos humanos”.
Para além disso, classifica como "um gesto de grande nobreza" a disponibilidade manifestada pelo Patriarca de Jerusalém em ser moeda de troca para a libertação de crianças mantidas reféns pelo Hamas, em Gaza.
“A moral sempre admitiu isso. Poder alguém com muita grandeza de alma poder oferecer-se como refém para livrar os que estão em risco da própria vida. É um gesto tipicamente cristão dispor da sua própria vida em favor de pessoas indefesas”, conclui.