O Banco Europeu de Investimento (BEI) está em "contactos exploratórios" com Portugal, Espanha e França relativamente ao futuro gasoduto marítimo apto para hidrogénio "verde" para reforçar as interconexões ibéricas, admitindo disponibilidade para financiá-lo, se preencher "critérios de elegibilidade".
A posição é do vice-presidente do BEI, Ricardo Mourinho Félix, que, em entrevista à agência Lusa em Lisboa, indica que o banco da União Europeia está "obviamente disponível e deseja olhar para esse projeto ou outros projetos de natureza semelhante e perceber se esse projeto é passível de ser enquadrado naquilo que são as elegibilidades, ou seja, se é um projeto de transporte que pode atingir os 100% de gases com baixo teor de carbono, em particular de hidrogénio "verde", e se é um projeto credível nessa dimensão".
"Nós temos uma política de financiamento energético que é muito clara e o BEI não financia [...] qualquer tecnologia com base em combustíveis de origem fóssil, [mas] o BEI financia tudo que sejam corredores de transporte, sejam eles de eletricidade ou de gases com baixo teor de carbono e que serão os gases e as formas de energia do futuro", explica o responsável.
Apesar de assinalar que o BEI ainda não conhece "as características do projeto", Ricardo Mourinho Félix vinca ser importante que este futuro corredor energético "possa ser utilizado e esteja pronto para transportar [...] hidrogénio "verde", ainda que no muito curto prazo possa transportar uma mistura".
"É passível, do ponto de vista técnico, haver combinações de gases com baixo teor de carbono com gases ainda de origem fóssil e, portanto, no muito curto prazo quando não existe ainda a oferta de hidrogénio "verde" que será necessária, nós podemos olhar para esse projeto, desde que cumpra aquilo que são os critérios de elegibilidade do projeto", elenca.
Segundo Ricardo Mourinho Félix, "existem já contactos exploratórios", nomeadamente com Portugal.
"Eu já falei com alguns membros do Governo sobre esse tema dizendo que estamos sempre disponíveis e, portanto, quando considerarem que o projeto está suficientemente amadurecido ao nível político, podemos começar a olhar para esse projeto e perceber também como é que podemos pensar num projeto que tenha as características necessárias para poder ser financiado", avança o responsável à Lusa.
No final de outubro, em Bruxelas, os governos de Portugal, França e Espanha chegaram a acordo para acelerar as interconexões na Península Ibérica, abandonando o projeto existente, destinado apenas ao gás por um outro que prevê um gasoduto marítimo para, além de numa fase inicial transportar este combustível fóssil, se destinar futuramente ao hidrogénio "verde".
Os chefes de Governo e de Estado destes três países -- António Costa, Pedro Sánchez e Emmanuel Macron -- decidiram avançar com um "Corredor de Energia Verde", por mar, entre Barcelona e Marselha (BarMar) em detrimento de uma travessia pelos Pirenéus (MidCat).
Os dois primeiros-ministros ibéricos e o Presidente francês chegaram ainda a acordo na necessidade de concluir as futuras interligações de gás renovável entre Portugal e Espanha, nomeadamente a ligação de Celorico da Beira e Zamora (CelZa).
António Costa já veio admitir que espera que este novo projeto possa ser totalmente financiado por verbas europeias, através do Mecanismo Interligar a Europa, mas para tal deveria ser considerado um projeto de interesse comum, classificação dada às iniciativas de infraestruturas para os sistemas energéticos da UE, como interconectores, que permite aos países beneficiar de procedimentos acelerados de licenciamento e de financiamento.
A ideia é que as novas infraestruturas na Península Ibérica permitam a distribuição de hidrogénio "verde" e que sejam tecnicamente adaptadas para transportar outros gases renováveis, sendo que numa fase inicial serão destinadas a uma proporção limitada de gás natural como fonte temporária e transitória de energia.
Antigo secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix foi designado, em outubro de 2020, vice-presidente do BEI.