O ministro da Defesa português congratulou-se esta quinta-feira com a "recusa absoluta" por parte de todos os Estados-membros da União Europeia da tentativa "muito clara" da Rússia de dividir o bloco europeu no contexto do conflito com a Ucrânia.
"É muito claro que as atitudes da Rússia tentam dividir. Dividir os europeus e dividir os europeus dos norte-americanos. E essa atitude mereceu claramente uma recusa absoluta, e todas as intervenções hoje foram muito claras sobre a importância de se manter a unidade no diálogo com a Rússia", afirmou João Gomes Cravinho, em declarações à Lusa e RTP à margem de uma reunião informal de ministros da Defesa da UE, em Brest, França.
Reiterando que a tensão a Leste, entre Rússia e Ucrânia, constitui "uma situação muito preocupante", João Gomes Cravinho defendeu que esta questão "tem de ser tratada com toda a firmeza, clareza de propósito e de unidade por parte dos europeus".
"E acho que há aqui uma grande satisfação em relação àquilo que tem sido possível atingir em termos de convergência e de unidade do lado da UE", disse.
Sobre as garantias dadas pelos Estados Unidos, principal interlocutor de Moscovo nas conversações em curso, no sentido de que a Europa terá sempre uma palavra a dizer numa solução política para o conflito, o ministro da Defesa disse acreditar que desta feita há efetivamente uma coordenação estreita, ao contrário do sucedido no verão de 2021, com a retirada das forças norte-americanas do Afeganistão, que apanhou a Europa de surpresa.
"Eu creio que nós aprendemos todos com a experiência do Afeganistão, e os Estados Unidos têm feito um esforço muito significativo para uma coordenação estreita com a UE e os países individuais da UE ao longo destas últimas semanas", observou.
DIálogo com a Rússia
A reunião informal de ministros da Defesa começou na quarta-feira à noite em Brest com um jantar de trabalho com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, na qual este resumiu aos 27 "aquilo que foram quatro horas de conversa com a delegação russa", no contexto do Conselho NATO-Rússia celebrado horas antes em Bruxelas.
"O primeiro ponto positivo é que houve, de facto, este diálogo, que é uma coisa que já não acontecia há dois anos e meio", comentou, observando que, apesar de inconclusivas, as "trocas de ideias" decorreram durante horas.
Gomes Cravinho notou que "a parte russa claramente não tinha autoridade para dar continuidade ou não dar continuidade, e, portanto, limitou-se a falar e a ouvir e irá agora reportar a Moscovo". .
"Portanto, não houve nenhum tipo de conclusão, mas é positivo que haja diálogo", reforçou, considerando ter-se tratado de "um primeiro passo" e reconhecendo que ainda se está "evidentemente muito longe de uma solução satisfatória de entendimento com a Rússia".
O ministro da Defesa defendeu ainda a necessidade de tentar manter o diálogo com a Rússia noutras matérias.
Argumentou que "é importante também procurar simultaneamente plataformas de entendimento sobre questões que são de interesse mútuo, como sejam matérias relacionadas com controlo de armamento, ou desarmamento, mecanismos para redução de risco, mecanismos para incrementar o diálogo militar, enfim, um conjunto de medidas que permitem baixar o nível de tensão".
A tensão na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, que faz temer uma nova agressão militar ordenada por Moscovo, marca a reunião de ministros da Defesa, assim como o encontro informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, que decorre até sexta-feira em Brest.
Esta quinta-feira, os titulares das pastas da Defesa e dos Negócios Estrangeiros ainda têm uma sessão de trabalho conjunta.