As eleições na Turquia decorreram com normalidade e com uma grande participação, disse à Renascença o deputado socialista Paulo Pisco, que se encontra na região de Esmirna como observador internacional. Cerca de 61 milhões de eleitores elegem hoje um Presidente e um parlamento, num sufrágio em que se joga a sobrevivência política do atual chefe de Estado, Recep Tayyip Erdogan.
"Do grupo de observadores em que estou já a visitamos oito assembleias de voto e a afluência tem sido sempre muito elevada. Nesta última, onde estivemos, estavam inscritos 338 eleitores e já tinham votado 307 numa altura que ainda faltava 01h00 pouco para o encerramento das assembleias de voto", afirmou o observador.
"O ambiente que. particularmente nas minhas deslocações, tenho vivido é um ambiente muito distendido, tem havido uma grande colaboração com os observadores a estas eleições - que são presidenciais e legislativas- e não tem nenhum tipo de obstáculos. O ambiente é correto do ponto de vista democrático", esclareceu ainda Paulo Pisco, afastando, para já qualquer tipo de interferência.
Também nos contactos que têm sido mantidos com os restantes observadores, a informação é que tudo tem corrido "sem perturbação e e com representação nas assembleias de voto dos diferentes partidos que fazem parte das coligações candidatas", à exceção de alguns incidentes e, Istambul e em Ancara.
"Aconteceu um ou outro caso em Istambul e também em Ancara, em que houve algumas altercações, mas que foi dado como ultrapassado e, portanto, não há dos sinais até ao momento que possam indicar que poderá, pelo menos nesta fase do processo eleitoral, haver perturbações maiores quanto ao período pós eleitoral, quando forem conhecidos os resultados", indicou Paulo Pisco.
Também em declarações à Renascença, André Coelho Lima, deputado do PSD e observador destas eleições o seio da OSCE, dá conta de "filas em todos os locais de voto" e que sobre a "regularidade e a fidedignidade do voto" refere que têm "relatos de alguns problemas".
"Nós não sentimos até agora nenhum tipo de problema, mas alguns colegas têm sido impedidos de aceder a locais de voto. Enfim, são situações expectáveis, sobretudo nas zonas rurais. Nós temos estado a fazer observação em Istambul e aqui tudo tem corrido com normalidade", afirma Coelho Lima.
"Querem acreditar que o resultado eleitoral será respeitado"
Paulo Pisco apontou ainda que, na reunião com os representantes dos partidos, perguntou diretamente ao candidato que representava o AKP, do presidente Erdogan, se estaria disposto a aceitar os resultados eleitorais no caso de uma derrota tendo recebido uma resposta positiva.
"Aquilo que disseram foi que sim, que iriam aceitar a derrota se fosse essa a vontade do povo. E que foi também algo que o próprio presidente Erdogan referiu num dos seus comícios. Agora, se depois estas declarações vão ou não ser respeitadas, Isso é outra questão... E os outros partidos da oposição também levantaram dúvidas", afirma Paulo Pisco.
"Querem acreditar que o resultado eleitoral será respeitado, mas não tenho a certeza que isso, de facto, possa acontecer, como, de resto, também já aconteceu noutras eleições, muito particularmente nas últimas eleições autárquicas em Istambul", apontou.
Revelando a preocupação para o apuramento dos resultados, o observador reiterou a necessidade de atenção nesta fase do processo.
“É fundamental que, nesta fase final, estejamos atentos, porque, segundo nos foi também referido, é preciso que o transporte dos votos pelos agentes de segurança seja feito com todas as condições de segurança e sem que haja nenhum tipo de perturbação para todo esse processo, até os votos poderem ser entregues e finalizados no Supremo Tribunal Eleitoral que vai conhecer, tal como presidente Erdogan, em primeira mão", explica Paulo Pisco.
"[Isto] cria uma desvantagem em relação a todos os outros partidos, porque é uma informação essencial sobre o resultado das eleições e não sabemos como é que ela depois pode vir a ser utilizada. Portanto, este processo, agora, a seguir ao encerramento das urnas nas assembleias voto, vai exigir efetivamente uma grande atenção", conclui.
O Conselho supremo eleitoral (Yüksek Seçim Kurulu,YSK) vai anunciar os resultados provisórios na noite de hoje, mas a contagem final oficial apenas será divulgada na próxima sexta-feira.
“O líder da oposição conseguiu juntar alguns partidos, até de áreas políticas diferentes da sua, há aqui até alguma surpresa. Há algo que não é tão surpreendente, é que, nas eleições autárquicas na Turquia, as seis principais cidades turcas foram vencidas por partidos que não o partido do poder. O que significa que já tinha existido, ou seja, já vem de há algum tempo um movimento de diálogo, uma alteração política, ou seja, não está só relacionado com a inflação que todos sentimos também na Europa, mas, aqui, são números muito maiores, de cerca de 50% e também com a resposta ao terramoto, que tem sido muito criticada”, analisa Coelho Lima.
O observador da OSCE destaca ainda as diferenças entre o eleitorado da Turquia: "Posso dizer que, em termos sociais, de facto. existe, independentemente daquelas que sejam as opções políticas, existe uma divisão enorme na sociedade turca, ou seja, Istambul não é apenas uma cidade, é uma cidade com 16 milhões de habitantes, tem mais 60% dos habitantes de Portugal, só a cidade de Istambul. Há, digamos assim, uma Turquia europeia e uma Turquia mais asiática. Há uma diferença muito significativa (...). É um país de grandes contrastes".
Para as eleições legislativas concorrem 24 partidos, a maioria em coligações para tentarem ultrapassar a barreira mínima dos 7% que permite a eleição de deputados para a Grande Assembleia Nacional (Parlamento), com 600 lugares.
As últimas sondagens divulgadas preveem uma vitória apertada de Kiliçdaroglu sobre Erdogan, o que evitaria uma segunda volta dentro de duas semanas, mas é possível, contudo, que nenhum dos dois consiga a maioria absoluta nesta primeira volta.
De acordo com as sondagens, o terceiro candidato, o nacionalista Sinan Ogan, não obterá mais de 3%, o suficiente para que Kiliççdaroglu ou Erdogan não consigam a maioria.
O fundador do AKP, uma formação conservadora e islamista, enfrenta o líder do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e nacionalista), Kemal Kiliçdaroglu, 74 anos, apoiado por uma coligação heterogénea de seis partidos e por uma formação de esquerda defensora dos direitos da minoria curda, que poderá ter a sua última oportunidade de terminar nas urnas com o crescente autoritarismo de Erdogan.