Uma das áreas em que o Banco Mundial trabalha, em 180 países, é na promoção da educação das mulheres, com vista a uma melhoria da igualdade salarial entre homens e mulheres.
Em entrevista à Renascença, a portuguesa Manuela Ferro, vice-presidente do Banco Mundial, explica que progresso tem sido feito e quais os obstáculos que ainda existem à igualdade no mercado de trabalho.
A desigualdade entre homens e mulheres cresceu após dez anos de progressos, diz o Fórum Económico Mundial. De acordo com a sua experiência, quais são os piores exemplos?
Os piores exemplos são sempre aqueles em que as mulheres tem poucas fundações técnicas e pouca habilidade para se incorporarem no mercado de trabalho.
Bases técnicas fortes, não só em ciência e matemática, mas também nas artes e filosofia, dão possibilidade às mulheres para entrarem no mercado de trabalho. Ora, o que nós vemos no mundo inteiro é que existe agora uma igualdade entre homens e mulheres, em termos de escolaridade e até entrada em áreas mais tecnológicas – Portugal é um país que tem muito boa participação de mulheres em áreas de engenharia, pode fazer melhor, mas é um dos bons exemplos – mas depois o que acontece é que o mercado do trabalho e as empresas não participam tanto.
Muitas vezes (as mulheres) saem e vão para outros sectores, onde ganham menos, e isso dá origem a uma desigualdade maior em termos de rendimentos e, até, em termos de participação em cargos de chefia em empresas.
O que é que o Banco Mundial está a fazer para anular essas desigualdades?
Nós trabalhamos com todos os países que são nossos clientes, que são 180, em três áreas. Uma é criar essas bases de educação, que não são apenas as matemáticas, as físicas e as economias, mas são também programas de desenvolvimento antes da escola, nos primeiros anos de vida, que têm um impacto enorme pela vida inteira.
Depois há programas, por exemplo, no Médio Oriente, no Paquistão, em que até subsidiamos a escolaridade de mulheres em área tecnológicas e cientificas. Temos também projectos em que financiamos empresas para que contratem mulheres e as mantenham efectivas.
Estes programas têm um sucesso variável, porque as normas sociais e culturais dos países têm um peso muito grande. Funcionam bem nos países em que são orientados pela liderança política e apoiados pela sociedade civil, mulheres e homens. As grandes oportunidades no mercado de trabalho para as mulheres, sobretudo em áreas técnicas, foram muitas vezes criadas por homens.
Quando haverá igualdade salarial entre homens e mulheres?
Ah! Não pode perguntar isso a um economista! Mas… O que vemos é uma redução muito lenta do diferencial de salários entre homens e mulheres. Quanto mais mulheres tivermos com uma base técnica forte, mais depressa esses diferenciais serão eliminados.
Neste momento já se discute muito o Rendimento Mínimo Universal, qual é a sua opinião? É contra, a favor?
Tudo depende do nível a que é estabelecido. Se for estabelecido a um nível em que, no fundo, serve como uma rede de suporte, para que as famílias não caiam na pobreza extrema, que até pode comprometer e dificultar o futuro de crianças e de filhos ou a saúde, esse rendimento mínimo, obviamente, é um rendimento que do ponto de vista económico faz sentido. Quando é estabelecido a um nível muito alto, pode desencorajar a participação no mercado laboral. Portanto, é mais a questão do nível a que é estabelecido e menos se deve existir ou não.