Surpresa? Nenhuma. Boris Johnson precisava de 434 votos favoráveis, ou seja, de ter consigo alinhados dois terços da Câmara dos Comuns, mas acabou por ter somente 298 a favor (56 deputados votaram contra e os trabalhistas abstiveram-se) e viu chumbada a sua proposta para realizar eleições (que seriam em 2022) antecipadas já a 15 de outubro.
Pese embora o primeiro-ministro (animado, claro, por saber que tem o eleitorado consigo e poderia vencer nas urnas – é pelo menos isso que apontam as sondagens recentes) quisesse mesmo ir a votos, e provocasse os deputados nesse sentido, a verdade é que a oposição, nomeadamente o líder trabalhista Jeremy Corbyn, só aceitaria eleições antecipadas quando Boris garantisse que um cenário de Brexit sem acordo estaria totalmente fora da mesa.
Ora, não está – a lei hoje aprovada para travar um “no deal” ainda não entrou em vigor; o diploma passa agora para a Câmara dos Lordes e é de lá que tem que vir aprovado por fim. E o chumbo foi rotundo, portanto.
Derrotado, novamente derrotado – empossado a 24 de julho, Boris enfrenta pela primeira vez votações no Parlamento e, até ver, perdeu-as todas (três em três) –, o primeiro-ministro logo tratou de atacar. E atacou Corbyn, pois claro.
Segundo Boris Johnson, o líder trabalhista “é o primeiro líder da oposição na História democrática do nosso país a rejeitar o convite para uma eleição”. “Só posso adivinhar as razões da sua decisão, a conclusão óbvia é que acha que não irá ganhar”, prosseguiu, ironizando depois, ao melhor estilo britânico: “Isto significa que a oposição tem confiança no Governo de Sua Majestade”.
E agora? Agora, e tendo Boris um Governo minoritário após a expulsão dos 21 deputados conservadores que votaram com a oposição para aprovar a lei, sabendo-se que, aprovada a lei, o Governo fica obrigado a pedir novo adiamento do Brexit (para 31 de janeiro) aos parceiros europeus caso não haja acordo para sair da União Europeia até 19 de outubro, espera-se uma derradeira cartada do primeiro-ministro já na segunda-feira.
Qual? Talvez uma já gasta: esta mesma, a de voltar a tentar levar a oposição às urnas – pois agora a saída sem acordo já não vai ser um entrave a ninguém. Certo é que o Reino Unido está (outra vez) num impasse.