O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, escusou-se este domingo a comentar discursos partidários nas 'rentrées' , mas considerou que o tempo de intervenção política mudou, acelerou, e que, por isso, o efeito destas diminuiu
"Diluiu-se um bocadinho aquele efeito dramático. Eu diria que é um efeito da desdramatização da vida política portuguesa também durante o verão. Os políticos vão falando, os líderes vão falando. Quando surge o grande discurso, provavelmente, é a continuação daquilo que disseram nas semanas anteriores", declarou.
O chefe de Estado falava aos jornalistas na Festa do Livro em Belém, iniciativa que lançou em 2016 e que, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "tem corrido muito bem" nesta terceira edição: "Ontem [sábado] já tínhamos batido os números do ano passado, quase 14 mil pessoas, e com um bocadinho de sorte batemos o primeiro ano, à volta de 20 mil".
A propósito dos discursos de 'rentrée' dos líderes partidários, que se escusou a comentar, o Presidente da República referiu que "está a assistir-se em Portugal a uma mudança, mas as pessoas ainda não notaram". No seu entender, contudo, "os políticos vão notando".
"Antigamente, a 'rentrée' era assim: em meados de julho havia o debate do Estado da Nação, depois entrava-se em férias e, até meados de agosto, às vezes até ao começo de setembro, havia um mês, um mês e meio parado" e "as 'rentrées' eram momentos para grandes discursos, grandes novidades, coisas completamente diferentes", descreveu.
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que agora "o parlamento funciona até ao final de julho" e "há acontecimentos durante o verão que motivam comentários permanentes", como a época de incêndios, a antecipação do debate orçamental ou de lutas sindicais: "Portanto, os próprios políticos mais ativos anunciam uma 'rentrée' para um dia e oito dias antes, dez dias antes fazem declarações de antecipação da 'rentrée'".
"Passou a ser natural haver outro ritmo, outro tempo de intervenção política. Se quiserem, o tempo acelerou. Era possível estar calado durante um mês e meio e depois era bombástico o que se dizia ao fim de um mês e meio. Agora não é possível. Se não é o líder, é o vice-líder, é o secretário-geral, é um parlamentar que tem de comentar o que se passou entretanto", considerou.
Interrogado se recomenda alguma leitura aos dirigentes partidários nesta altura, o chefe de Estado respondeu que nos próximos tempos "o que eles vão ter de ler muito são os vários documentos sobre o Orçamento do Estado" e que esta "não é ocasião" para outras leituras.