José Ribeiro e Castro, ex-presidente do CDS, recorda Júlio Castro Caldas, que morreu este sábado, aos 76 anos, como “um grande admirador de Francisco Sá Carneiro”, presidente do PSD, em vários períodos, entre 1974 e 1980, data da sua morte, quando era primeiro-ministro. Isto apesar de Castro Caldas ter sido mais tarde (entre 1999 e 2001) ministro da Defesa, no Governo socialista de António Guterres.
“Aproximou-se logo de Sá Carneiro a seguir à formação do PPD-PSD. Portanto, militou intensamente até certa altura nesse partido e, mais tarde, afastar-se-ia do partido e voltou, como civil, no papel de ministro da Defesa, no Governo de António Guterres, e teve um bom desempenho”, lembrou à Renascença.
Ribeiro e Castro recorda que Castro Caldas foi “chefe de gabinete de Sá Carneiro, ainda antes do Governo”. para além disso, “foi um deputado relevante do PSD”, no tempo da Aliança Democrática (coligação entre PSD, CDS e PPM), em 1979, quando se tornaram amigos. Esteve na Assembleia da República em duas legislaturas, entre 1980 e 1983, eleito por Viana do Castelo.
Nesse âmbito, acabou por estar envolvido nas investigações ao acidente aéreo que vitimou Sá Carneiro, em dezembro de 1980, tendo protagonizado o “pedido de inquérito parlamentar”, com “grande coragem e independência”, apesar de “ser afeto a um partido do Governo”. Tratou-se da primeira comissão parlamentar de inquérito ao chamado caso Camarate.
“Esteve na origem daquilo que seria a primeira comissão parlamentar de inquérito a Camarate. E ainda que essa investigação fosse uma investigação parlamentar clássica, sem entrar nas investigações das causas do sinistro, esse relatório foi bastante importante. Logo aí ficaram caraterizadas as fragilidades e inconsistências do processo, que acabou por se arrastar por vários anos”, evoca o centrista.
Nos anos 90, Castro Caldas saiu em defesa de Ricardo Sá Fernandes
Apesar da vertente política, Ribeiro e Castro considera que Castro Caldas será recordado, sobretudo, “como advogado”. Foi bastonário da Ordem entre 1993 e 1998, “mais que um mandato, o que é uma situação bastante rara”.
Nessa condição, o antigo deputado do CDS recorda a sua intervenção num processo em que o também advogado Ricardo Sá Fernandes foi alvo de uma queixa-crime por difamação por parte de um juiz, após ter suscitado um incidente de suspeição, “uma coisa absolutamente absurda”. Castro Caldas, que era então bastonário, assumiu o patrocínio de Ricardo Sá Fernandes.
“Lembro-me de que foi um julgamento 'sui generis' ver o Bastonário da Ordem nessa qualidade e como advogado defender um advogado membro da Ordem, num processo que atentava contra direitos fundamentais do exercício da advocacia. Era uma pessoa de finíssimo trato, de grande cordialidade, de muito bom humor e de grande fidelidade. Da última vez que o vi foi, justamente, respondendo a uma das últimas comissões parlamentares de inquérito, contando episódios de que se recordava”, conta à Renascença.