É a primeira vez, mas o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já prometeu que não será o único ano do seu mandato em que as celebrações do Dia de Portugal vão ocorrer noutro país. Para começar, este ano, o chefe de Estado e o primeiro-ministro fazem uma primeira cerimónia no Terreiro do Paço, em Lisboa, e uma segunda na Câmara de Paris. Pelo meio, são ambos recebidos pelo Presidente francês, que depois também na cerimónia oficial. E não ficam por aqui: Marcelo e António Costa ficam três dias em Paris, para homenagear emigrantes, mas também para fazer diplomacia.
Primeiro a diplomacia: numa altura em que as sanções a Portugal continuam em cima da mesa da Europa, a França pode ser um poderoso aliado. Porque se viu livre de sanções “por ser a França”, como disse o Presidente da Comissão Europeia; porque tem um governo socialista que já veio dizer, através do seu ministro da Economia que é contra quaisquer sanções a Portugal por incumprimento do Tratado Orçamental.
No plano da diplomacia, esta visita também faz parte da “campanha eleitoral” levada a cabo por Presidente e Governo para conseguir eleger António Guterres secretário-geral das Nações Unidas. E também aí a França pode ser um aliado de peso, já que faz parte do restrito clube dos membros permanentes do Conselho de Segurança.
Depois as homenagens: primeiro a três porteiras portuguesas e ao marido de uma delas por terem prestado auxilio às vítimas do atentado terroristas ao Bataclan, um café e sala de concertos do centro de Paris, em Novembro deste ano. São eles as estrelas das condecorações do 10 de Junho deste ano e da cerimónia que vai ter lugar, esta sexta-feira à tarde, na Câmara de Paris, com presença e discursos do Presidente francês e da presidente do município, além, claro, do chefe de Estado português.Segundo nota da Presidência, para esta cerimónia foram convidadas 800 pessoas, todas pertencentes à comunidade portuguesa em França , entre elas professores de português, dirigentes associativos, vereadores e eleitos locais, os feridos e as famílias das vítimas dos atentados do dia 13 de Novembro.
“O facto de uma câmara francesa ser o espaço para essa cerimónia convidando os portugueses para um casa que é a casa de todos os parisienses é uma forma de dizer que a comunidade portuguesa merece esse respeito”, considera Hermano Sanches Ruivo, conselheiro na Câmara de Paris, que, no entanto, lamenta que o programa não dê mais atenção à promoção da língua portuguesa.
Presidente inaugura rotunda portuguesa
As homenagens continuam no sábado, com o Presidente Marcelo a inaugurar a rotunda comendador Armando Lopes, em Creteil. Feito comendador há 20 anos por Mário Soares, também num 10 de Junho, Armando Lopes é uma figura de destaque da comunidade portuguesa, sendo o presidente da Rádio Alfa, que no domingo promove uma festa popular onde o Presidente Marcelo também vai. Segundo a Presidência da República, será a primeira placa toponímica de um português vivo, em França.
De Creteil, Marcelo segue para Champigny, município onde se instalaram milhares de portuguesas na década de 1960, vivendo num imenso bairro de lata. Aí será inaugurado um monumento ao antigo presidente Câmara, Louis Talamoni, um político que defendeu e ajudou os portugueses e que também será feito comendador, ainda que a título póstumo.
O grande promotor deste monumento foi o empresário Valdemar Francisco, que também promoveu a realização de um documentário sobre a emigração portuguesa para França que já está em fase final de produção. Valdemar Francisco também será feito comendador na cerimónia que vai decorrer em Champigny, tal como o empresário e dirigente associativo Manuel Cândido Faria e oprovedor da Misericórdia de Paris, Joaquim Silva e Sousa.
Na lista de condecorações de sábado, inclui-se ainda o fotografo francês Gérald Bloncourt, que registou a dura realidade da emigração portuguesa no fim dos anos 50 e nos anos 60 do século passado, e a actual presidente da Câmara de Champigny.
Programa conjunto, aviões separados
Na tarde de sábado, o Presidente ainda vai ao cemitério de Richebourg homenagear os soldados portugueses falecidos na I Grande Guerra e termina o dia com um jantar com a selecção portuguesa de futebol.
No domingo, o programa do Presidente é mais cultural, com vistas ao Instituto Gulbenkian de Paris, a uma exposição sobre arquitectura e à exposição com obras de Amadeo Sousa Cardoso. Isto além da festa da Rádio Alfa.
O primeiro-ministro, António Costa, acompanha todo este programa, à excepção da visita à delegação da Fundação Gulbenkian, onde esteve recentemente.
Embora tenham um programa conjunto, Marcelo e Costa vêm para Paris em aviões separados. O protocolo a isso obriga, fazendo com que o primeiro-ministro tenha de sair mais cedo das celebrações em Lisboa, de forma a estar em Paris para receber o Presidente. Costa vem em avião militar, enquanto Marcelo usará um Falcon, que fará a viagem mais rapidamente.