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O Ministério da Solidariedade e Segurança Social anunciou, no sábado, que vai promover um estudo serológico a uma amostra de funcionários e utentes de lares. Trata-se de uma medida pedida tanto pela União das Misericórdias como pela Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social.
O estudo, que pode vir a ser relevante para a decisão de dar uma terceira dose da vacina anti-Covid à população mais vulnerável, não é, contudo, consensual. Nem mesmo dentro do Governo. Na véspera do anúncio, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, tinha manifestado dúvidas sobre a utilidade de testes de imunidade nos lares.
Que testes é que o Governo vai promover?
De acordo com o que foi anunciado pelo Ministério da Solidariedade e Segurança Social vai ser feito um estudo serológico a uma amostra de cinco mil funcionários e utentes dos lares. Este estudo vai ser conduzido ainda em agosto e a participação será voluntária.
O estudo será conduzido pelo Algarve Biomedical Center (ABC) e pela Fundação Champalimaud, e os resultados serão apresentados publicamente em setembro.
Vai ser um estudo nacional?
Não. Vai ser realizado apenas nas regiões do Algarve e Alentejo. O Algarve Biomedical Center vai contactar as instituições destas regiões, pedindo a participação dos utentes e dos profissionais, até se atingir a meta de cinco mil participantes.
E qual o objetivo do estudo?
O objetivo deste estudo é, de acordo com o comunicado, “aumentar o conhecimento científico atual sobre a duração dos efeitos da vacina nesta população, através da análise da imunidade dos idosos mais vulneráveis que já receberam a vacina, comparando-a com a dos funcionários vacinados na mesma altura”.
Os resultados do estudo serão partilhados com as autoridades de saúde e poderão contribuir para decisões futuras sobre esta matéria.
Decisões futuras? Quer isso dizer terceira dose da vacina?
É o que se depreende do comunicado. Contudo, não é consensual na comunidade científica, nem mesmo no Governo, que a decisão seja feita com base no estudo de imunidade.
Aliás, na véspera do anúncio deste estudo, tanto o coordenador da “task force” da vacinação como o secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, tinham manifestado dúvidas públicas sobre a utilidade de testes de imunidade.
Que disseram eles?
O vice-almirante Gouveia e Melo disse, em entrevista à Renascença, que “se só estivermos a medir anticorpos, podemos ter falsos resultados porque pensamos que as pessoas já não têm defesas, quando têm todas as defesas”. E Lacerda Sales também disse que “os testes serológicos, só por sim, ou a existência de anticorpos só por si pode não significar que a pessoa tem imunidade”.
“Pode não ter esses anticorpos por via dos testes serológicos e pode ter essa imunidade de memória. Há aqui aspetos técnicos que é preciso avaliar para que se possa avançar para esse tipo de estudos”, disse Lacerda Sales na Guarda, na véspera de o Ministério da Segurança Social anunciar o estudo.
Imunidade de memória, o que é isso?
O que os cientistas explicam é que a nossa imunidade não é determinada apenas pelos anticorpos, mas pela memória que fica no nosso sistema imunitário, nas chamadas células T. Ou seja, para termos sempre um nível elevado de anticorpos teríamos de estar em contacto regular com o vírus; isso é que ativa o nosso sistema imunitário.
O facto de não termos muitos anticorpos não quer dizer que tenhamos deixado de estar protegidos; pode só dizer que não temos estado em contacto com o vírus. É por isso que os testes podem ser enganadores.
Há estudos já feitos, tanto em profissionais de saúde como em pessoas vacinadas, que mostram que os anticorpos baixam muito meses depois da toma da vacina. Contudo, isso não significa que a vacina não tenha produzido efeito.
O Presidente da República também falou sobre os testes. O que disse?
Disse que concorda com os testes e que é preciso acompanhar os anticorpos. No passado domingo, em Melgaço, disse também que a terceira dose da vacina será uma decisão do Governo.
E o que já disse o Governo sobre a terceira dose?
Disse que essa decisão ainda não está em cima da mesa. O primeiro-ministro, contudo, já garantiu que Portugal está a fazer encomendas e compras de vacinas para a eventual necessidade de uma terceira dose ou de uma vacinação regular contra a Covid, à semelhança da vacinação anual contra a gripe.
Ainda voltando à questão dos lares, porque é que não estão todos vacinados?
De acordo com os dados da “task force”, foram já vacinados 99% dos idosos nos lares e 97% dos funcionários, um esforço que continuará até se garantir a cobertura integral de vacinação nesta população.
Faltará ainda vacinar cerca de mil utentes de lares, a esmagadora maioria (cerca de 90%) por terem estado infetados com Covid-19. No caso dos funcionários, falta mais. Estão por vacinar cerca de 2.100 pessoas, cerca de 70% dos quais por se encontrarem a recuperar de infeção por Covid.
Os restantes não tomaram ainda a vacina por serem novas contratações ou por terem razões de saúde que desaconselham a vacina.