O antigo primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, acredita que há uma "falta de convicção" aos partidos moderados e tradicionais e, por outro lado, denota uma "grande intensidade e paixão dos extremistas".
Durante a sua intervenção no Estoril Political Fórum, organizado pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, o antigo presidente da Comissão Europeia assinala uma postura "defensiva" por parte das forças moderadas.
"[Há uma] falta de convicção dos moderados e uma grande intensidade e paixão dos extremistas. A verdade é que as forças que considero mais razoáveis, racionais e moderadas, estão na defensiva, e estão a dar espaço aos extremismos, de esquerda e direita, na sua mobilização de ressentimentos e preconceitos contra a democracia liberal", diagnostica Durão Barroso.
O antigo governante do PSD, que abandonou recentemente a presidência não-executiva da Goldman Sachs, acredita que os sistemas políticos já não se dividem entre esquerda-direita e estão perante uma nova dicotomia: partidos fechados e partidos abertos. Durão Barroso sugere que é essencial "repensar o modo de estabelecer consensos", numa alusão ao tema que dá o mote para a 31.ª edição deste evento.
"Se dividirmos o campo democrático, vamos continuar a dar espaço aos que são inimigos da democracia", afirma o antigo primeiro-ministro, que pede que as forças do centro-esquerda e centro-direita se unam contra o populismo: "temos de encontrar as pontes necessárias - sem prejuízo da demarcação de cada perspetivas - para evitar que os consensos [democráticos] sejam quebrados".
Falta de liderança ao centro?
Sem explicar a quem, Durão Barroso salienta que, em democracia, "é preciso liderança" e acredita que o "centro" tem de ter um líder capaz de afastar os extremos e pede uma reformulação da postura dos moderados.
"Não tem de ser um centro mole. Não tem de ser uma direita menos ou uma esquerda menos. Tem de ser um reformismo mais, um centro duro. Tem de ter a tal intensidade e energia que muitas vezes falta aos moderados", descreve o antigo presidente da Comissão Europeia.
A título de exemplo, Durão Barroso aponta para a vitória de Giorgia Meloni em Itália, cujo Governo foi caracterizado "quase como neofascista ou fascizante", e que, defende o antigo primeiro-ministro português, "se tem integrado perfeitamente no mainstream europeu".
Por outro lado, Durão Barroso, na sua veia mais europeísta, defende que a União Europeia tem sido "o bode expiatório em relação à democracia", uma vez que há muitas forças extremistas eurocéticas, e defende que a UE é a organização internacional "mais democrática" - que nunca deve ser comparada ao funcionamento dos Estados-membro.
Também recorrendo a um caso concreto, Durão Barroso lembra o governo do Syriza, que questionou a legitimidade dos princípios da União Europeia, e que acabou por perder eleições mais tarde. "Quis levar a União Europeia para outros terrenos, mas não foi a Grécia que mudou a Europa, foi a Grécia que teve de mudar de Governo", recorda o antigo chefe do executivo português.