O número de hipertensos duplicou praticamente no mundo em 30 anos, para 1,27 mil milhões, sendo que 720 milhões de pessoas continuavam por tratar em 2019, revela um estudo, que reúne dados de 184 países, incluindo Portugal.
O trabalho, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Imperial College London, apresenta estimativas globais sobre prevalência, diagnóstico, tratamento e controlo da hipertensão a partir da análise de dados de 1.201 estudos conduzidos entre 1990 e 2019 com a participação de 104 milhões de pessoas (homens e mulheres entre 30 e 79 anos). A amostra representa 99% da população mundial.
Portugal surge destacado na lista de 10 países com as mais altas taxas de tratamento de mulheres hipertensas em 2019, com 71%, enquanto Moçambique figura entre os 10 países com as mais baixas taxas de tratamento, tanto de homens como de mulheres.
Segundo a metanálise, publicada na revista médica britânica The Lancet, o número de hipertensos passou de 648 milhões (317 milhões de homens e 331 milhões de mulheres) em 1990 para 1,27 mil milhões (652 milhões de homens e 626 milhões de mulheres) em 2019. Tal aumento reflete o crescimento e o envelhecimento da população, apontam os autores.
Em 2019, a maioria da população mundial hipertensa (82%) concentrava-se nos países de baixo e médio rendimento, para os quais os especialistas defendem políticas e fundos que favoreçam o acesso a alimentos mais saudáveis, reduzindo o sal e embaratecendo o preço de vegetais e frutas, e apoiem o aumento da cobertura de cuidados de saúde e o tratamento ininterrupto com medicamentos eficazes.
Leanne Riley, coautora do artigo que trabalha no Departamento de Prevenção de Doenças Não Transmissíveis da OMS, adverte que "as baixas taxas de diagnóstico e tratamento que persistem nas nações mais pobres do mundo, juntamente com o número crescente de pessoas com hipertensão, irão transferir uma parcela cada vez maior da carga de doenças vasculares e renais para a África Subsariana, Oceânia e sul da Ásia".
Parceira no estudo, a OMS lançou hoje novas orientações, as primeiras em 20 anos, sobre o tratamento da hipertensão em adultos, que incluem o nível de pressão arterial para iniciar medicação, a tipologia de medicamentos a tomar e a frequência de medições de controlo.
O artigo da The Lancet realça que, apesar de a hipertensão ser simples de diagnosticar e relativamente fácil de tratar com medicamentos de baixo custo, em 2019 quase metade das pessoas no mundo (cerca de 580 milhões) desconhecia a sua condição, por falta de diagnóstico, e mais de metade (720 milhões) não foram tratadas.
Para Majid Ezzati, professor do Imperial College London, no Reino Unido, que também assina o artigo, "é uma falha de saúde pública que tantas pessoas ainda não recebam o tratamento de que necessitam".
Em termos globais, a pressão arterial foi controlada, para níveis normais através de medicamentos, em menos de 1 em cada 4 mulheres e em 1 em cada 5 homens hipertensos.
Na lista de países com alta prevalência de hipertensão surgem Paraguai, Hungria, Polónia e Croácia. Em contrapartida, Canadá, Suíça, Reino Unido e Espanha apresentam baixa prevalência. Canada e Peru tinham em 2019 a menor proporção de população hipertensa, 1 em cada 4 pessoas.
De forma geral, os países de alto rendimento e alguns de médio rendimento melhoraram significativamente o tratamento e o controlo da hipertensão, como Canadá, Coreia do Sul, Islândia, Estados Unidos, Costa Rica e Alemanha.