A progressão do coronavírus tornou inevitável um forte abalo no crescimento económico mundial. Se o abrandamento chegará a recessão, ainda ninguém sabe. Aquele abrandamento logo se refletiu em menor procura de petróleo e, consequentemente, na baixa do seu preço.
Antes do aparecimento do coronavírus, em dezembro a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), liderada pela Arábia Saudita, baixou a sua produção, para levar a uma subida do preço do barril. A Rússia, que se tem entendido com os sauditas na área do petróleo desde 2016, acompanhou a baixa da produção.
O petróleo encareceu, embora não dramaticamente, até que a crise do coronavírus provocou uma nova descida do preço do barril. Já este mês, a OPEP reuniu em Viena e, como sempre seguindo a orientação da Arábia Saudita, acordou novos cortes na produção de “crude”, para defender os preços.
Só que, desta vez, a Rússia recusou baixar a sua produção, porventura receando que a sua economia não aguentasse um imediato corte nas receitas. A resposta saudita foi imediata e brutal: em vez de reduzir a sua produção de “crude”, vai aumentá-la. E começou desde já a baixar preços nas suas exportações petrolíferas, oferecendo descontos aos compradores.
Trata-se de uma estratégia delineada por quem manda na Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, que desde há um ano se tornou, além do mais, ministro do petróleo. Inundando o mercado com petróleo barato, bin Salman trava uma guerra de preços contra a Rússia e também contra o petróleo de xisto dos EUA.
No princípio desta semana o barril de “brent” valia no mercado 31 dólares, contra 50 dólares no passado dia 5 e cerca de 70 há pouco mais de um ano. E vários bancos de investimento apontam para preços ainda mais baixos (20 dólares, por exemplo) nos próximos tempos.
Esta guerra petrolífera que, repita-se, também visa os produtores americanos óleo de xisto (“fracking”), põe em causa a aproximação de Trump à Arábia Saudita. Entretanto, bin Salman tem reforçado a sua ditadura política no país, nomeadamente mandando prender três membros da família real.