Quando, no dia 7 do corrente mês, o Hamas lançou um bárbaro ataque terrorista contra Israel, muita gente se interrogou como seria possível um país dotado de serviços secretos e de segurança considerados altamente competentes ter sido apanhado desprevenido. Passada uma semana o mistério parece esclarecido.
Sob o governo de Netanyahu e de algumas forças religiosas de Israel de extrema direita, o país estava profundamente dividido. Sucessivas manifestações gigantes apelavam a que o primeiro ministro recuasse na tentativa de dominar o Supremo Tribunal de Justiça, único travão às investidas anti-democráticas governamentais, num país que não possui uma constituição escrita.
Entre os manifestantes contavam-se importantes e prestigiados membros das Forças Armadas israelitas, bem como personalidades com ligações aos serviços secretos. Ora várias destas pessoas já não se dispunham a exercer as suas capacidades debaixo da quase ditadura de Netanyahu. Muitos deles foram afastados pelo governo mais incompetente e fanático dos últimos anos em Israel. Não admira que organismos essenciais de defesa e informação tenham perdido boa parte da sua conhecida eficácia. Israel tornara-se vulnerável e o Hamas aproveitou.
Além de milhares de mortos, torturados e feridos, o ataque do Hamas provocou um profundo trauma em Israel. Humilhados, os dirigentes israelitas procuram superar esse trauma pela vingança implacável, sem contemplações para com o direito ou a moral. Não é uma novidade, mas a presente escalada da violência atingiu níveis nunca antes vistos.
Benjamin Netanyahu logrou formar um executivo de emergência com o líder da oposição, Benny Gantz. Um gabinete de guerra, que apenas lidará com assuntos militares; desse governo de unidade nacional faz parte o ministro da Defesa, Yoav Gallant – o mesmo que anunciou uma “ofensiva total” contra a faixa de Gaza, onde impera o Hamas.
Assim, aquela estreita faixa costeira deixou de ter acesso a eletricidade, a água, alimentos, medicamentos, etc. Um cerco que o direito internacional não aceita e que Israel manteve para tentar que o Hamas libertasse os reféns. O Hamas recusou. Gaza já era um escasso território onde dois milhões de palestinianos sobreviviam com muita dificuldade; a invasão israelita torna aquela faixa um cemitério a céu aberto.
A curto prazo, o ataque terrorista do Hamas tornou menos descartável o primeiro-ministro Netanyahu. Mas, daqui a semanas ou meses, seria importante que Israel se livrasse deste político hábil, mas corrupto e incompetente.