A Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIIC) receia que a nova legislação dos incentivos do Estado ao sector venha comprometer a liberdade de imprensa.
Segundo o presidente da direcção, o padre Elísio Assunção, o diploma que o Governo está a ultimar transfere para as comissões de coordenação regional a competência da atribuição dos incentivos, o que pode representar riscos.
Para o sacerdote, “ a proximidade é sempre boa, mas, às vezes, acontece que há forças de oposição, não simpatia, essas coisas que acontecem localmente e que podem vir a prejudicar alguns órgãos de comunicação que não são simpáticos, que não são da mesma cor, que não perfilham as mesmas ideias e por adiante”. Por isso, afirma, tem “receio que haja uma limitação à liberdade de imprensa”.
Conjugando apoios que vêm do Orçamento de Estado e de fundos europeus, o novo diploma vai obrigar os responsáveis pelos jornais a uma reorganização. Por isso, o presidente da AIIC lamenta a ausência da maior parte dos sócios na assembleia.
Em declarações aos jornalistas no final da assembleia geral da AIIC, em Fátima, Elísio Assunção, eleito esta sexta-feira, fez o apelo ao espírito de união dos associados para que se reorganizem no sentido de virem a beneficiar dos apoios.
“Acima de tudo está esta dificuldade de compreendermos o valor do espírito associativo e acho que, em nós, de inspiração cristã, isso é pecaminoso, porque a igreja é comunhão, é família, é caminharmos juntos, remarmos juntos e cada um fica no seu cantinho”. “Eu acho que isso é um pecado moderno”, rematou.
A associação está já a promover uma campanha de sensibilização junto dos sócios e prevê rever as parcerias com os CTT, a agência Lusa e outras associações no sentido de dar mais apoio a estas publicações.
Fundador homenageado
O padre António Salvador dos Santos, responsável pelo jornal de Évora “A Defesa”, foi homenageado nesta assembleia-geral. Elemento da equipa que elaborou os estatutos da futura associação de imprensa de inspiração católica, o padre António Salvador dos Santos tem estado, desde então, na direcção da associação, saindo agora (da direcção para o Conselho fiscal) por razões de saúde.
Agraciado com uma placa pelo seu empenho de décadas, o sacerdote admitiu ter sido uma “surpresa” que o comoveu, porque a imprensa é o seu sonho desde criança.
Começou “quando era escuteiro, tinha os meus 12 ou 13 anos, e comecei a trabalhar no jornal que eu próprio fundei, que se chamava A voz da Patrulha”. “Tenho muito amor à imprensa, acredito muito nesta causa e não me importo de morrer com este sentimento de que vale a pena trabalhar na imprensa”.
Para António Salvador dos Santos, o grande desafio actual para quem trabalha neste meio é não “ esquecer que os outros meios são complementares à imprensa”. O sacerdote salienta que “não devemos excluir a internet, como a internet não deve excluir a imprensa, e isso é o grande trabalho que temos de fazer: mentalizarmo-nos que o nosso trabalho, mesmo que seja menos solicitado ou tenha menos procura, é o desafio que nos deve levar a criar amor ao que fazemos, a aperfeiçoar e a tornar os jornais mais legíveis”.
Como? “Através de artigos mais pequenos e melhor paginação, para que as gerações mais novas possam olhar para aquilo e não rejeitar logo à partida”.
Nesta assembleia geral da AIIC foi também prestada uma homenagem a Vítor Serra, responsável pelo jornal “Reconquista” e membro dos órgãos sociais da AIIC, recentemente falecido.
Depois destas eleições, os órgãos sociais da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã passam a ser os seguintes: cónego João Aguiar, padre Manuel Fernandes e Pedro Conceição (Assembleia-geral); padre Elísio Assunção, Paulo Rocha, Fernando Silva, Maria da Conceição Vieira e Paulo Ribeiro (Direcção); Cónego Fernando Monteiro, Cónego António Salvador dos Santos e Luís Ferraz (Conselho Fiscal).