Lusodescendente vota extrema-direita em França. "Estou cheio de pagar impostos para nada"
04-06-2024 - 07:30
 • Pedro Mesquita, enviado especial a Paris

Lusodescendente explica à Renascença por que tenciona votar na extrema-direita francesa.

Daniel é filho de emigrantes portugueses em França e está decidido a votar no partido de Marine Le Pen e Jordan Bardella, nas eleições europeias do próximo domingo. “Uma pessoa trabalha toda a vida para agora ter um ordenado mínimo? Não vale a pena. Os novos estrangeiros estão a rebentar com a economia toda”, afirma o lusodescendente.

Aos 28 anos, Jordan Bardella lidera, com larga vantagem, as sondagens em França, para as eleições europeias. É uma folga de quase 15 pontos percentuais, tanto para os socialistas como para o partido do Presidente Macron.

Se esta intenção de voto se confirmar nas urnas, o Rassemblement National (RN), de extrema-direita, com Bardella ao leme, poderá contar com o apoio de um em cada três eleitores franceses. E um desses eleitores é o lusodescendente que a Renascença conheceu num autocarro, à entrada de Paris.

Daniel conta que já votou nos socialistas e em Emmanuel Macron, mas, desta vez, a sua escolha será outra: “Bardella… É o que está com a Le Pen”. E porquê? “Porque já estou cheio. Já estou cheio das pessoas que se aproveitam. Seja à direita ou à esquerda, é tudo a mesma coisa. São todos falsos. É por isso que uma pessoa tem de mudar, tentar outra coisa. Eu nunca recebi nada do Estado, e trabalhei toda minha vida. Estou sempre a pagar impostos para nada."

Daniel queixa-se do custo de vida, dos impostos e também daqueles que apelida de “novos estrangeiros”.

“Quando os meus pais vieram, havia trabalho em todo o lado. Agora, já não há trabalho. Estes migrantes todos fazem baixar os salários. Se você, por exemplo, pede um salário de dois mil euros, toda a gente lhe diz que não. Dão apenas mil e setecentos euros brutos, que é o salário mais baixo. Mais nada. Uma pessoa trabalha toda a vida para agora ter um ordenado mínimo? Não vale a pena. Os novos estrangeiros estão a rebentar com a economia toda.”

Noutro plano, Daniel condena a invasão russa da Ucrânia e admite à Renascença que as ligações de Marine Le Pen ao Presidente russo, Vladimir Putin, o incomodam, mas a importância deste dado é relativa na hora de ir votar.

“Sim, incomoda. Mas se vamos olhar para isso não podemos votar em ninguém porque Macron também faz muitas coisas mal. Há coisas em que ela não está bem, mas já tivemos a esquerda e não deu. Tivemos a direita e não deu. Agora, temos de tentar outra coisa”, desabafa Daniel.