Em agosto a inflação em Portugal baixou uma décima em relação aos 9% registados em julho. Mas a estimativa rápida do INE para setembro desmentiu a esperança de a subida dos preços ter começado a baixar ou pelo menos a estabilizar – a subida foi de 9,3%, um máximo de 30 anos.
Este surto inflacionista é provocado sobretudo pela guerra na Ucrânia. Nos países bálticos, próximos do conflito, a inflação está bem acima de 20%.
A seca é outro fator inflacionista. Desde sábado está temporariamente suspensa a produção hidroelétrica em 15 barragens, até que sejam alcançadas as cotas mínimas da sua capacidade útil que venham a ser estabelecidas pela Agência Portuguesa do Ambiente.
Os produtos energéticos continuam a impulsionar os preços; embora o barril de Brent esteja abaixo dos 90 dólares, a valorização cambial do dólar torna mais caro o petróleo em euros. Os bens alimentares acentuaram o seu peso na subida dos preços.
O que nos leva ao fator inflacionista que está a ganhar crescente importância: as expectativas de que os preços vão continuar a subir. Essas expectativas enraizaram-se nas nossas cabeças. Combater a inflação significa, agora, contrariar as expectativas inflacionistas, que abrangem a generalidade dos bens e serviços.
Por isso o Banco Central Europeu sente-se obrigado a mostrar firmeza na subida dos seus juros. M. Centeno, governador do Banco de Portugal, tornou público o seu desejo de que a próxima subida dos juros do BCE seja inferior a 0,75%, para evitar uma recessão. Mas com uma inflação nos 10% na zona euro, o BCE dificilmente fará a vontade a Centeno. Ainda que a inflação atual na Europa não seja resultante de um excesso de procura. A subida dos juros do BCE poderá provocar uma recessão? Certamente, mas o BCE quer ganhar a batalha psicológica.