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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, não reconhece ligação entre o que se passou com festejos futebolísticos no Porto ou em Lisboa e a decisão britânica de retirar Portugal do corredor verde.
Sanos Silva admite que é preciso evitar imagens de multidões nas ruas para não prejudicar a imagem de Portugal.
Que comentário lhe merece a decisão do Governo britânico?
Como o ministro britânico da Habitação hoje já lhe chamou, é uma decisão ultracautelosa. Não há nenhuma evidência de que o número de casos identificados em Portugal de que essa mutação dita nepalesa da variante dita indicana suscite qualquer preocupação para além da preocupação que todos temos de todos os dias, a todas as horas e minutos, procurar perceber como está a evoluir o vírus, porque o vírus tende a evoluir e a conhecer novas mutações.
Os estudos disponíveis mostram que, no caso da variante indiana, podendo haver alguma diminuição da capacidade de produzir efeitos da primeira dose das vacinas autorizadas, isso não acontece quando se alcança a vacinação completa
Portanto, o caminho tem de ser continuarmos a assegurar a vacinação da população e, a partir daí, permitir a circulação livre daqueles que estão vacinados ou estão imunizados porque já tiveram a doença ou testam negativo à Covid num período de tempo suficientemente próximo da data da viagem. Esse é o espírito e a lógica do certificado digital Covid-19 da União Europeia e, com toda a humildade, não consigo compreender porque é que as autoridades britânicas estão a usar uma lógica tão contrária a esta, uma lógica tão estranha para mim que nem lhe chamaria lógica.
A decisão britânica pode ser explicada por questões internas? Por terem fixado o dia 21 de junho para uma abertura completa?
- Como tenho a vantagem de ser ministro dos Negócios Estrangeiros, não tenho de me pronunciar sobre assuntos internos de outros. O que tenho é a lamentar os efeitos reais desta medida precipitada e baseada em suposições. Esses efeitos reais são dois. Em primeiro lugar, temos hoje centenas ou milhares de pessoas que, subitamente, viram os seus planos de férias interrompidos, viram o seu planeamento posto em causa e o seu direito a gozar um pouco de sol num país belíssimo, simpaticíssimo para os britânicos como é Portugal também posto em causa.
Em segundo lugar, lamento a consequência económica porque a crise provocada pela pandemia é uma crise bem real, com efeitos devastadores em setores económicos essenciais para nós e para os britânicos como a aviação, o turismo, a hotelaria e a restauração e, evidentemente, este vai-e-vem de decisões tem efeitos negativos sobre a recuperação económica.
Que resposta é que uma decisão destas deve ter por parte de Portugal?
Uma tripla resposta. Em primeiro lugar, devemos apostar mais ainda na diversificação dos nossos mercados e temos aqui uma oportunidade visto que, a partir de 1 de julho, com o certificado digital, a circulação de alemães, holandeses, franceses, espanhóis, que já estejam vacinados, imunizados ou com teste negativo será maior e há aí mercados importantes para o turismo português que podem e devem ser desenvolvidos para ficarmos menos dependentes de um só mercado como o britânico.
A segunda coisa que podemos fazer é continuar a acolher bem todos aqueles que nos visitam e que cumprem as regras sanitárias que instituímos.
A terceira coisa que devemos fazer é dar o nosso próprio exemplo. É muito importante, designadamente para reputação e imagem internacional, que se evitem as multidões nas ruas sem máscaras, as festas excessivas ou descontroladas ou as conversas segundo as quais agora já não temos de ter nenhum cuidado. Não! Os portugueses têm-se portado excelentemente quanto às regras da Covid e é muito importante que essa reputação que temos não seja prejudicada por atos mais isolados, mas que depois são amplificados no circuito mediático com consequências negativas para a nossa imagem.
Nesse sentido, as imagens do Porto, no fim-de-semana passado, podem ter prejudicado Portugal?
Imagens do Porto, de Lisboa ou de qualquer outra localidade. Não faço distinções, muito menos contra a minha própria cidade de nascimento ou residência. Quanto a esse argumento, também tenho olhos e também vejo televisão e, portanto, àqueles que dizem que a festa dos ingleses no Porto foi uma má propaganda, permito-me recordar que também houve festa em Londres. É preciso continuar o nosso trabalho e, entretanto, continuarei a fazer tudo o que é possível no plano político-diplomático para mostrar aos nossos amigos e aliados britânicos que eles não têm razão quando consideram que Portugal já não é um destino seguro para todo o tipo de viagens.
O presidente do Turismo do Porto e Norte apela a que se abra rapidamente o mercado do turismo norte-americano. Tem alguma previsão para essa abertura?
Não tenho essa área e não gosto de falar sobre competências que não são as minhas. Creio que esse esforço de abertura é muito importante, tenho medo do adverbio 'rapidamente'. Toda a arte do nosso desconfinamento tem sido ele ser prudente e gradual e assim devemos continuar. Já hoje recebemos os residentes norte-americanos, incluindo os turistas, desde que apresentem teste negativo à entrada do país e a situação pandémica que se vive, em Portugal, nos EUA e um pouco por todo o mundo, aconselha a que tenhamos estes cuidados.