Svetlana Tikhanovskaya não sorri muito. Mãe de dois filhos, com o marido preso pelo regime, lidera a oposição ao último regime autoritário na Europa e, por isso, recebeu o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, em nome do movimento que quer derrubar Lukashenko. Refugiou-se na Lituânia numa altura em que a tensão aumentou em Minsk após a sexta reeleição de Lukashenko, com 80% dos votos. Tikhanovskaya foi a candidata derrotada.
As eleições causaram dúvidas a várias organizações internacionais e à própria União Europeia. Recusando a violência, esta mulher de 37 anos veio a Lisboa pedir apoios à Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia. E também ouviu relatos sobre como se pode tentar uma revolução sem sangue.
Fala em diálogo com o regime de Lukashenko. Acredita mesmo que é possível?
Sim, acho que é possível. Estamos no século XXI e não queremos violência do nosso lado. Queremos que a Bielorrússia permaneça em paz. Ninguém quer uma escalada. Queremos renovar a nossa Bielorrússia, construir uma nova Bielorrússia. É por isso que estamos a tentar colocar mais pressão sobre o regime, para que eles sintam que o diálogo construtivo é a única saída desta crise política e humanitária.
Para que esse diálogo seja possível, é preciso que haja alguém do outro lado para conversar e suponho que não seja Lukashenko. Existem outras personalidades no regime com quem pode conversar?
Sim, pensamos que Lukashenko não está pronto para o diálogo. Mas as pessoas ao seu redor também estão cansadas desse regime e dessa ditadura. Precisamos de representantes do regime ou da polícia que estejam prontas a colocar o bem-estar da Bielorrússia em primeiro lugar em detrimento de benefícios pessoais. Sei que existem essas pessoas. Estamos a trabalhar com pessoas da "nomenclatura", pessoas da polícia de choque e há uma divisão na elite . Estamos no início deste processo, mas ainda assim já vemos progressos.
Há sinais de que possa ser um processo tranquilo? Acha que isso vai acontecer a curto prazo?
Esta é uma maratona. Mas, sabe, as mudanças podem acontecer muito rapidamente. Ninguém sabe o que leva a uma explosão de gente que pode vir de todo o país. É como no vosso país. Ninguém talvez tivesse imaginado que o regime cairia de uma forma tão rápida como quando a polícia tomou o partido do povo. Pode acontecer o mesmo no nosso país.
O que é que aprendeu com outros processos? Por exemplo, o que aprendeu com o processo ucraniano?
Não podemos comparar a situação da Bielorrússia com a da Ucrânia. Temos contextos absolutamente diferentes. E a única coisa que queremos é que a nossa revolução e a nossa transição de poder sejam pacíficas. Este é o meu único desejo. Não quero vítimas, não quero que as pessoas sofram.
Li que está aberta à possibilidade de que, se for necessário, você não será a pessoa que poderá liderar esse movimento, caso existam outras pessoas no seu movimento mais bem preparadas para o fazer. Isto é verdade?
Eu não estou a competir com ninguém neste momento. Estamos a caminhar para um objetivo e eu não posso fazer tudo. Do meu lado, acho que faço o meu melhor. Mas se houver mais um ou dois, se aparecerem uns quantos patriotas e estiverem a fazer o seu melhor a trabalhar com a tropa de choque, na nomenclatura, no terreno, tudo bem. A nossa revolução não é de uma pessoa. Mesmo que eu desapareça, não sei em que circunstâncias, a revolução não vai parar . E esta talvez seja a característica da nossa revolução, o facto de estar dispersa.