O Presidente da República defendeu esta segunda-feira que existem "várias formas imaginativas" de o Estado apoiar a comunicação social sem interferir na liberdade de informação, como incentivos fiscais, estímulo à leitura ou taxas às plataformas multinacionais pelo uso da informação.
No âmbito da iniciativa "Jornalistas no Palácio de Belém", que junta até meados de dezembro convidados da comunicação social televisiva, radiofónica e escrita e estudantes de todo o país, estiveram hoje na residência oficial de Marcelo Rebelo de Sousa os diretores do semanário Expresso, Pedro Santos Guerreiro, e do jornal Público, Manuel Carvalho.
Depois de ter lançado, na semana passada, o debate se o Estado deve intervir num cenário de crise da comunicação social, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado pelos jornalistas se tal intervenção seria compatível com a manutenção da liberdade de informação.
"Eu acho que sim, eu próprio coloquei quais são as dúvidas que se levantam", salientou.
Como exemplos de medidas que poderiam ser adotadas, apontou o porte pago que já existiu para a imprensa local e regional, o apoio do Estado aos jovens leitores de jornais (existente no Canadá e em alguns países europeus, referiu) ou apoios à formação profissional na área do jornalismo.
"Há várias formas imaginativas, não significa o Estado estar a tomar capital, a meter-se na vida das empresas jornalísticas, estar a condicionar a liberdade da informação", defendeu.
Outra medida que indicou como uma possibilidade seria "o pagamento de uma taxa" pelas plataformas eletrónicas multinacionais às empresas jornalísticas nacionais, cuja informação utilizam de forma gratuita.
"Com imaginação, já houve, há, em inúmeras democracias formas de o Estado, através do parlamento, - não intervir influenciando a orientação editorial da comunicação social, isso é totalmente indesejável - mas enfrentar os problemas que existem", considerou.
Na terça-feira passada, na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2017, num hotel de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que "a grande interrogação" que tem formulado a si próprio é "até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir" face à crise da comunicação social.
O chefe de Estado adiantou que, a este propósito, tem pensado se "não será possível uma forma de intervenção transversal, a nível parlamentar, que correspondesse a um acordo de regime", embora consciente das dificuldades que isso envolve do ponto de vista político.
Na sessão de hoje com Pedro Santos Guerreiro, o Presidente da República lembrou os seus tempos de diretor do Expresso e confessou que foi a sua experiência no jornalismo que o fez adaptar-se ao ritmo da política.
"Aprendi com o jornalismo -- que era mais lento há 40 anos do que é hoje e a política muito mais lenta, tudo acelerou -- a adaptar-me ao que é hoje o ritmo da política. Conhecer a realidade da ótica do jornalismo facilita acompanhar a velocidade da política hoje", admitiu.