A palavra compunção evoca o “picar" é como “um aguilhão no coração, que trespassa e fere, fazendo brotar as lágrimas do arrependimento”, disse o Papa esta quinta-feira, aos cerca de 1.500 sacerdotes romanos que com ele concelebraram a Missa Crismal, na Basílica de São Pedro.
Francisco partiu do que aconteceu ao apóstolo Pedro para valorizar o sentimento de remorso que actua como “uma picada benéfica que queima intimamente e cura” e permite mudar o coração, acolhendo a ação do Espírito Santo, “como água viva que muda ao ponto de fazer correr as lágrimas pelo rosto”.
“Quem retira a máscara e se deixa olhar por Deus no coração, recebe o dom de tais lágrimas, as águas mais santas depois das do Batismo”, acrescentou.
Neste percurso, de contrição e arrependimento, o Papa propõe aos sacerdotes erguer o olhar para o Crucificado e deixar-se comover pelo seu amor “que sempre perdoa e eleva, que nunca deixa frustradas as esperanças de quem n’Ele confia”. E, como as lágrimas purificam o coração, “a compunção é o antídoto para a esclerocardia, a dureza do coração frequentemente denunciada por Jesus”.
Francisco alerta que o coração sem arrependimento nem lágrimas, torna-se rígido: “primeiro, torna-se rotineiro, em seguida intolerante com os problemas e indiferente às pessoas, depois frio e quase impassível, como se estivesse envolvido por uma concha inquebrável, e finalmente de pedra. Mas, assim como a água, gota a gota, escava a pedra, as lágrimas lentamente escavam os corações endurecidos. Deste modo assiste-se ao milagre da tristeza que leva à doçura.”
As crianças choram mais do que os adultos
O Papa recorda que “na vida biológica, quando se cresce, chora-se menos do que em criança. Mas, na vida espiritual, onde o que conta é tornar-se criança, quem não chora retrocede, envelhece interiormente, ao passo que a pessoa que chega a uma oração mais simples e íntima, feita de adoração e comoção diante de Deus, amadurece".
Deste modo, um coração arrependido “prende-se cada vez menos a si mesmo e sempre mais a Cristo, torna-se pobre em espírito e sente-se cada vez mais irmão de todos os pecadores do mundo, sem qualquer aparência de superioridade nem dureza de juízo, mas com desejo de amar e reparar”.
No fundo, “em vez de se irritar e escandalizar pelo mal feito pelos irmãos, chora pelos pecados deles”, cumprindo-se assim “uma espécie de reviravolta: a tendência natural de ser indulgente consigo mesmo e inflexível com os outros inverte-se e, pela graça de Deus, a pessoa torna-se exigente consigo mesma e misericordiosa com os outros”, concluiu Francisco.