Empresários e associações apontam dificuldades à Renascença, sobretudo com pagamentos, e dão como incontornável a suspensão das encomendas. Muitos já procuram mercados alternativos. Cortiça, maquinaria e calçado estão entre os produtos mais afetados.
“Neste momento não queremos encetar a continuação de atividades com eles”, avança José Manuel Fernandes, sócio fundador da Frezite, fabricante de maquinaria de corte para indústrias, com empresas em vários países.
Pertencem a um setor (máquinas e aparelhos) que só no ano passado, em plena pandemia, foram o terceiro maior exportador para a Rússia (13,3% das exportações, segundo o INE).
Este empresário garante que utilizam métodos de pagamentos seguros, ainda assim decidiram suspender as vendas para a Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. Foi uma decisão “de livre vontade”, garante. De qualquer forma, estes parceiros de negócios estavam a ter dificuldades, “normalmente pagam à frente da encomenda”.
Na cortiça, grande exportador nacional, são admitidos impactos, mas a pandemia travou o golpe. Segundo a APCOR, associação que representa o sector, nos dois últimos anos as vendas para a Rússia caíram e já só representam 2,3% do total - o que ainda são cerca de 26 milhões.
João Ferreira, secretário-geral da APCOR, admite um corte total nas exportações. “A partir de certa altura, as empresas travaram e as coisas abrandaram brutalmente, na Ucrânia para zero e na Rússia as coisas aconteceram muito rapidamente também. Hoje, até devido à dificuldade de acesso a divisas nas transações, face à questão das sanções bancárias, temos que estar sintonizados e solidários com o mundo Ocidental e os Aliados”.
A cortiça já sai de Portugal para mais de 100 países e o sector sente
ainda mais necessidade de diversificar destinos, como o mercado norte-americano e o europeu. “Vamos certamente conseguir que estes 2,3% da Rússia possam encontrar novas geografias, na nossa promoção internacional”, acrescenta.
Outro grande exportador para a Rússia, é o calçado. Foi o quinto maior em 2021, representou 7,6% dos produtos portugueses vendidos. No entanto, os mercados russo e ucraniano representam 1% do total das vendas para o exterior. São 15 milhões de euros, segundo a APICCAPS.
Paulo Gonçalves, porta-voz da associação, defende que “do ponto de vista estritamente de negócio, o conflito na Rússia não será um problema imediato para o setor”. Acrescenta ainda que os impactos diretos são residuais.
“O nosso grande receio é a influência que um conflito desta natureza terá à escala internacional e, em particular, se falamos estritamente na área da atividade empresarial. O contágio que poderá ter num conjunto de outros países relativamente próximos, esses sim, mais importantes para as empresas portuguesas, como a Alemanha, a Polónia e o Reino Unido”, explica.
Como a cortiça, também o calçado já procura alternativas, o que passa já esta semana pela maior feira internacional do sector, em Milão, onde cerca de 40 empresários vão apresentar a produção nacional.