Na Fórmula 1, os contratos dos pilotos são para cumprir até deixarem de o ser. Depois de meses de especulação, Sergio Pérez anunciou, esta quarta-feira, que vai deixar de ser piloto da Red Bull imediatamente, apesar de ter contrato até ao fim de 2026 - um prolongamento anunciado em junho deste ano. O substituto continua por anunciar.
O piloto mexicano publicou um comunicado nas redes sociais, em que se diz "incrivelmente grato pelos últimos quatro anos com a Red Bull Racing e pela oportunidade de correr com uma equipa fantástica", e agradece "a todas as pessoas na equipa".
De acordo com o anúncio, Sergio Pérez e a Red Bull chegaram a acordo mútuo para a rescisão do contrato. Não são conhecidos nenhuns outros detalhes, mas o cenário mais provável é que a equipa, interessada em pôr um fim na relação, tenha indemnizado o mexicano. O anúncio não inclui um papel de embaixador da marca Red Bull para o mexicano, apesar de ter feito parte da especulação sobre um possível acordo entre as duas partes.
Pérez terminou a temporada de 2024 no oitavo lugar no campeonato, com 152 pontos - o que compara muito mal com o colega de equipa, Max Verstappen, que foi campeão do mundo pelo quarto ano consecutivo e marcou 437 pontos.
Uma temporada quase sem pontos positivos
A temporada de 2024 não começou mal para o mexicano, com pódios em Bahrain, Arábia Saudita, Japão e China. O primeiro aviso à Red Bull foi quando, no Grande Prémio da Austrália, Pérez não conseguiu compensar a desistência de Verstappen por um problema nos travões, e não só não impediu uma dobradinha da Ferrari como não chegou ao pódio - terminou em quinto, apenas com a redenção de ter uma película de uma viseira presa no fundo do carro, que talvez tivesse sido evitada sem ser penalizado por bloquear Nico Hulkenberg durante uma volta rápida na qualificação.
Na China, apesar do pódio, Sergio Pérez não conseguiu evitar um segundo lugar de Lando Norris quando foi forçado a compensar um mau arranque - isto enquanto Verstappen vencia de forma confortável. Depois, em Miami, não descolou do meio do pelotão, lutando com carros mais lentos (incluindo o RB de Daniel Ricciardo) e quase eliminando o colega de equipa no arranque ao mesmo tempo que a McLaren dava início à perseguição à Red Bull com uma vitória.
No Mónaco, Pérez foi eliminado na primeira fase da qualificação, e acabou por se envolver num forte acidente com os pilotos da Haas logo após o arranque, destruindo o Red Bull na subida para a praça do Casino. No Canadá, Pérez foi novamente eliminado logo no início da qualificação - algo que aconteceu seis vezes ao longo de 2024 - e bateu sozinho. Ao decidir arrastar o carro danificado para as garagens, prejudicou-se para a próxima corrida, na Espanha.
Na Áustria, terminou atrás do Haas de Hulkenberg, em sétimo, que não conseguiu manter atrás; em Silverstone, não conseguiu segurar o carro numa pista a secar durante a qualificação, e uma má escolha de pneus assegurou que terminava a corrida duas voltas atrás da liderança; na Hungria, teve outro acidente no início da qualificação, e na corrida apenas conseguiu chegar a sétimo.
Por esta altura, já se falava de uma cláusula no contrato que o colocava em perigo caso estivesse 100 pontos atrás de Verstappen na pausa de verão - a desvantagem já era de 141 pontos. Ao mesmo tempo, a Red Bull ficava cada vez mais perto de desistir definitivamente de Daniel Ricciardo, e de colocar novo Liam Lawson no segundo lugar na RB (o que fez em setembro).
Na Bélgica, Pérez arrancou do segundo lugar, mas terminou em sétimo, três lugares atrás de Verstappen (que tinha arrancado de 11.º por trocar partes do motor). A única exceção a esta lista seria a corrida no Azerbaijão, uma das poucas ocasiões em que correu à frente do colega da Red Bull, mas perdeu-se numa luta com Carlos Sainz até tudo acabar num acidente em que teve a maioria da culpa. As passagens por Singapura e Austin foram mais corridas sem boas notícias para o mexicano.
Em casa, no Autódromo Hermanos Rodriguez, Pérez sentiu a pressão do momento: voltou a ser eliminado na primeira fase da qualificação, foi penalizado por parar à frente da linha na grelha de partida, e foi praticamente atropelado pelo provável substituto Liam Lawson, a caminho de ser o último classificado do dia.
Com o fim da carreira a parecer cada vez mais provável, as palavras desafiantes de Pérez eram contrariadas pelas ações. No Brasil, não conseguiu chegar aos pontos, enquanto Verstappen deu uma lição de condução à chuva a todos, e o GP do Qatar foi o início definitivo do fim: o mexicano voltou a sair na primeira fase da qualificação, agora para a corrida sprint, e arrancou das boxes depois de mudanças na suspensão. Aí, não reagiu às luzes e foi ultrapassado por Franco Colapinto, da Williams, com a corrida de sábado a ser usada pela Red Bull como sessão de testes para resolver os problemas do mexicano.
Na corrida de domingo, Pérez estava em boa posição para beneficiar de um Safety Car, mas fez um pião sozinho mesmo quando a corrida estava prestes a recomeçar. Ao tentar arrancar novamente, queimou a embraiagem, o que repetiu na primeira volta em Abu Dhabi, depois de ser empurrado por Valtteri Bottas.
2024 torna-se, assim, num fim desesperante para uma carreira que apenas contou com uma outra passagem por uma equipa de topo. Infelizmente para Pérez, essa equipa foi a McLaren e a oportunidade aconteceu em 2013, o primeiro ano da espiral destrutiva da equipa que agora se veste de laranja-papaia - e foi a campeã de 2024.
Os outros anos de Pérez, que chegou à F1 em 2011, foram marcados por desempenhos sólidos em equipas do meio do pelotão, nomeadamente a Force India, que depois se tornou Racing Point - e que se livrou do mexicano em 2020 para acolher Sebastian Vettel no ano da transformação em Aston Martin, tornando a vitória em Sakhir ainda mais emocionante.
Tudo aponta para Lawson
O substituto ficou por anunciar, mas os rumores mais fortes apontam para a promoção de Liam Lawson da equipa júnior (Racing Bulls) à equipa principal.
Caso essa escolha se confirme, não seria a primeira vez que a Red Bull escolheria um piloto menos experiente em que diz ver mais promessa para o segundo carro. Pierre Gasly foi chamado a substituir Ricciardo em 2019, em vez de Sainz (que em 2018 ainda fazia parte da família da marca de bebidas), e acabou a ser substituído a meio da temporada por Alexander Albon. Albon aguentou até ao fim de 2020, mas os resultados sem grande brilho ditaram a escolha de Pérez para 2021.
Com o futuro de Sergio Pérez a ser questionado durante toda a temporada, a Red Bull decidiu não contratar Carlos Sainz para 2025, e o espanhol acabou a assinar com a Williams. A equipa nem sequer decidiu arriscar colocar Ricciardo ainda em 2024, apesar de ser difícil fazer pior que o mexicano naquele carro este ano.
Neste momento, a Red Bull tem à disposição Yuki Tsunoda, que se estreou em 2021 na então AlphaTauri e tem vindo a limar arestas - e a derrotar os novos colegas de equipa. O japonês fez o teste final de temporada no carro da Red Bull, para tirar as teimas a várias questões que se identificam no desempenho do piloto - como o feedback técnico. Mas, depois do teste, os rumores que favorecem Lawson parecem pouco afetados, e a lista de inscritos para 2025 já mostra Tsunoda na Racing Bulls em 2025 - apesar de também indicar que Pérez está inscrito pela Red Bull.