As raparigas portuguesas estão mais envolvidas em situações de bullying e cyberbullying como vítimas e os rapazes como agressores e como vítimas provocadoras, diz um estudo sobre problemas do comportamento nos adolescentes.
O estudo "Bullying, cyberbullying e problemas de comportamento: O género e a idade importam", realizado no âmbito do estudo de 2018 do Health Behaviour in School Age Children (HBSC), visou analisar o envolvimento dos jovens neste tipo de comportamento e violência, a par da frieza emocional, em função do género e da idade.
Foi estudada uma amostra composta por 8.215 estudantes, 52,7% raparigas, com uma média de idades de 14,36 anos, que frequentavam os 6.º, 8.º, 10.º e 12.º anos de escolaridade.
A maioria dos participantes disse não estar envolvida em situações de bullying e cyberbullying ou de violência.
O estudo demonstrou que o género tem influência no envolvimento neste tipo de situações, com um número mais elevado de raparigas a relatarem estar envolvidas em situações de bullying como vítimas e um número mais elevado de rapazes a contar que estão envolvidos nestas situações como agressores e como vítimas provocadoras.
O estudo indica que 75,6% dos rapazes e 78,6% das raparigas não estiveram envolvidos em bullying e 88,5% dos rapazes e 90,2% das raparigas não tiveram situações de cyberbullying.
Dos que admitiram ter estado envolvidos, 14,8% das raparigas colocaram-se na condição de vítimas no bullying e 6,9% no cyberbullying.
No caso dos rapazes, 11,2% foram vítimas de 'bullying2 e 3,7% de cyberbullying.
Treze por cento dos rapazes assumiram-se como agressores ou vítimas provocadoras no bullying e 7,9% disseram o mesmo em relação ao cyberbullying.
Já nas raparigas, quanto à condição de agressor ou vítima provocadora, as percentagens baixam para 6,6% no 'bullying' e 2,9% no cyberbullying.
"Apesar do envolvimento em situações de cyberbullying ser menos frequente por comparação com o envolvimento em situações de bullying, os resultados obtidos apresentaram um padrão semelhante", refere o estudo divulgado a propósito do 10.º Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente, que decorre quarta e quinta-feira em Lisboa.
Quando consideradas as diferenças de género em relação ao total de problemas de comportamento e à frieza emocional, os resultados mostraram que este tipo de dificuldades é maior nos rapazes.
Segundo a investigação, o envolvimento nestas situações aumentou do 6.º para o 8.º ano, diminuindo significativamente a partir daí.
A idade demonstrou também ter um efeito no total de problemas de comportamento e na frieza emocional, que evidenciaram diminuir com o tempo, refere o estudo, que recomenda "o desenvolvimento de políticas públicas, na área da educação e saúde, em contexto escolar e comunitário, de Tolerância Zero à Violência".
Aconselha também o desenvolvimento de competências de pais e professores na identificação de sinais de envolvimento em situações de violência, e no suporte às vítimas e provocadores e desmistificação da aura de poder e superioridade associada à provocação, encarando preferencialmente a provocação como uma perturbação antissocial, a necessitar de apoio psicológico.
Outro estudo, integrado no HBSC, analisou a "Resiliência na adolescência", tendo concluído que "as meninas apresentam valores significativamente mais elevados na empatia, resolução de problemas e objetivos e aspirações, enquanto que os rapazes apresentam valores mais elevados na autoeficácia".
Participaram neste estudo 5.695 alunos dos 8.º, 10.º e 12.º anos de escolaridade, com uma média de idades de 15,46 anos, 53,9% raparigas.
Segundo a investigação, são os adolescentes mais velhos que apresentam valores mais elevados de empatia e objetivos e aspirações.
Os resultados salientam "o efeito cumulativo da proteção e a importância de fatores como o género e a idade na compreensão da resiliência na adolescência".
"Os adolescentes portugueses apresentam, de um modo geral, bons níveis de recursos internos associados à resiliência. É, no entanto, importante desenvolver programas promotores de resiliência tendo em atenção que os recursos associados à resiliência se adquirem e agregam ao longo da vida e que grupos mais vulneráveis e expostos a mais adversidades terão mais dificuldade em acionar este mesmo processo", sublinha o estudo.