Ricardo Peixoto Fernandes, dono da Foxtrot, a empresa a quem foi adjudicada a encomenda de kits de autoproteção em cenário de incêndio no âmbito dos programas “Aldeia Segura” e “Pessoas Seguras”, é marido de uma autarca eleita pelo Partido Socialista (PS). A notícia foi avançada esta sexta-feira pela revista "Sábado" e entretanto confirmada pelo próprio à Renascença.
Peixoto Fernandes é casado com Isilda Gomes da Silva, atual presidente da junta de freguesia de Longos, em Guimarães.
Em declarações à Renascença, Ricardo Peixoto Fernandes garante que a mulher “apenas soube deste contrato já bastante tarde” e que “é independente", não estando "filiada em qualquer partido”.
“Estou de consciência tranquila", garante o empresário. "Em nada interferiu a relação da minha esposa e os partidos.”
A empresa Foxtrot tem estado envolta em polémica esta sexta-feira, depois de o "Jornal de Noticias" ter revelado que alguns materiais dos kits antifogos são inflamáveis.
Há um ano, no espaço de uma semana, a empresa viu-lhe serem adjudicados dois contratos com a Autoridade Nacional de Proteção Civil. O primeiro é referente à aquisição de 70 mil golas a entregar em 30 dias, por 102.200€ (mais IVA). O segundo contrato previa a entrega de "15 mil kits de autoproteção no âmbito dos programas 'Aldeia Segura' e 'Pessoas Seguras'", por 165 mil euros (mais IVA).
Questionado sobre como foi o processo que resultou na venda destes kits à Proteção Civil, Ricardo Peixoto Fernandes explica de forma breve: “Houve um concurso ao qual eu concorri e foi adjudicado esse contrato.”
No site do Governo, o "tipo de procedimento" definido nos dois contratos é o de "consulta prévia".
À Renascença, Peixoto Fernandes garante ainda que no caderno de encargos não havia referência “a material de proteção” e, face à polémica, o empresário lamenta que esteja a ser dado “uso indevido a esse equipamento”.
“Se estão a fazer testes, a chegar fogo a golas, aquilo arde, não é para utilizar em combate a incêndios.” Essa é, precisamente, a mesma informação entretanto adiantada pela própria Proteção Civil, que refere que os equipamentos em questão não são para proteção individual nem para combate a incêndios.
"Estes equipamentos servem sobretudo para uma proteção temporária, num movimento que se espera que seja rápido, e não nunca para enfrentar um incêndio florestal”, disse à Renascença a segunda comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), Patrícia Gaspar.