Jacques Delors, antigo presidente da Comissão Europeia e ministro ministro francês da Economia, morreu esta quarta-feira, aos 98 anos. Foram vários os políticos do panorama nacional e internacional que manifestaram o seu pesar perante a perda de "um gigante", que é também lembrado como uma das figuras incontornáveis do crescimento e da coesão europeia.
Em declarações à Renascença, o eurodeputado e vice-presidente do PSD, Paulo Range afirma que "Jacques Delors é, de todos os presidentes da Comissão Europeia, sem dúvida o mais importante, aquele que deixou uma marca mais impressiva e mais forte".
"Jacques Delors, chega em 85, na altura em que Portugal e Espanha estão a entrar na União Europeia, e é alguém que vai ser decisivo em três pilares um é o mercado interno, o mercado único europeu. Depois, também muito importante na questão da coesão económica e social (...) e depois a ideia da União Económica e Monetária e da moeda única, o Tratado de Maastricht e a própria criação do conceito de União Europeia como sucessor das antigas Comunidades Europeias e, portanto, Jacques Delors, que mudou por completo a EU e preparou a entrada dos países nórdicos, da Suécia, da Finlândia, a Noruega, na altura", descreve Rangel.
"Há, claramente, uma União Europeia antes Delors e depois de Delors. Disso não há dúvidas, ele é grande referência. A própria comissão europeia passou a ser outra, isto é, a Comissão Europeia era um órgão muito mais administrativo, era assim que estava concebida de alguma maneira, pelos pais fundadores dos anos 50, mas de facto ele [Delors] vai torná-lo numa espécie de órgão politico, numa espécie de governo da União Europeia. Isto deve-se, claramente, ao seu carisma e a estas reformas ele levou a cabo. Portanto, sem dúvida que foi uma figura maior da política europeia e talvez o mais relevante", acrescenta o eurodeputado.
Já o eurodeputado socialista Pedro Marques descreveu Jacques Delors como “uma personalidade marcante no projeto europeu” e “um dos que talvez tenha marcado mais a segunda fase de grande aprofundamento da União Europeia".
"Exatamente há 30 anos, com o avanço do Mercado Único Europeu, Jacques Delors é um fundador nesse sentido, se quisermos, do Mercado Único Europeu", afirma Pedro Marques, à Renascença.
"A Europa era, sobretudo, uma comunidade de troca livre de bens. Jacques Delors e as instituições europeias, nessa altura, com a sua liderança, fazem-nos avançar mais a caminho do facto de um mercado único de circulação de bens, de pessoas, de capitais. E Jacques Delors é também nesse sentido, alguém que sempre nos disse que uma Europa e um mercado único teria de ter uma correspondência numa forte política de coesão para garantir que a Europa se fizesse sempre com níveis elevados de equilíbrio e de coesão entre os seus países e as suas regiões. E por isso devemos-lhe imenso", relembra Pedro Marques.
"Um Homem com letra grande"
"É uma perda muito grande para o projeto europeu e espero também que nele continuemos a encontrar exemplo de como juntos temos de ser, de facto, mais fortes e temos que nos juntar mais e dar mais coesão ao projeto europeu para continuarmos a ser mais fortes dentro da própria Europa e em todo o mundo", afirma o eurodeputado. “Temos de usar estes exemplos inspiradores para compreender que temos de defender o projeto que temos e até, eventualmente, o seu aprofundamento, para que continuemos a ser relevantes no mundo e para sermos viáveis como a União Europeia, tal qual a conhecemos. Porque temos hoje um conjunto de líderes na Europa e até sentados no Conselho Europeu que infelizmente digamos, puseram muito em causa essa coesão do projeto europeu".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamenta a morte do antigo presidente da Comissão Europeia Jacques Delors, "um Homem com letra grande".
Marcelo Rebelo de Sousa considera, em comunicado, que o político francês, de 98 anos, "encarna para muitos europeus a própria construção europeia".
Com a morte de Jacques Delors a Europa perdeu “um dos maiores vultos da sua história contemporânea”, afirma o primeiro-ministro, António Costa. “Jacques Delors, um dos grandes impulsionadores da integração europeia, foi também e sobretudo um grande amigo de Portugal”, salienta o chefe do Governo, numa mensagem publicada nas redes sociais.
Numa mensagem divulgada através da sua página na rede social X (antigo Twitter), o presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva escreveu que "Jacques Delors é um dos grandes construtores da Europa".
"A Europa que sonhou e por que se bateu: a Europa social, a Europa da coesão, em que o crescimento económico e a justiça social formam um par. Obrigado!", lê-se.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também reagiu e lamentou a perda de Jacques Delors. “Com a morte de Jacques Delors, a UE perdeu um gigante. O último cidadão honorário da Europa, trabalhou incansavelmente como presidente da Comissão Europeia e membro do Parlamento Europeu em prol de uma Europa unida. Gerações de europeus continuarão a beneficiar do seu legado”, reagiu na rede social X.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, já prestou homenagem a Delors, numa publicação na rede social "X" (antigo Twitter).
“Um estadista com um destino francês. Arquiteto inesgotável da nossa Europa. Um lutador pela justiça humana. Jacques Delors foi tudo isto. O seu empenho, os seus ideais e a sua rectidão inspirar-nos-ão sempre. Saúdo a sua obra e a sua memória e partilho a dor da sua família”, escreveu.
Michel Barnier, o principal negociador da União Europeia durante o divórcio do Reino Unido da UE, disse que Delors tinha sido uma inspiração e uma razão para "acreditar numa 'certa ideia' da política, da França e da Europa".
Já a atual presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, descreveu Jacques Delors como "um visionário que tornou a nossa Europa mais forte".
"Com a morte de Jacques Delors, ex-Presidente da Comissão Europeia, com quem tive a honra e o prazer de colaborar em várias ocasiões, perdemos um extraordinário líder. Ele combinava os “pequenos passos” da integração europeia com o ideal de uma Europa unida. Merci, cher Jacques!", escreveu José Manuel Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia (2004-2014),
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também afirmou que Delors “liderou a transformação da Comunidade Económica Europeia numa verdadeira União, fundada em valores humanistas e apoiada por um mercado único e uma moeda única, o euro”.
“Foi um defensor apaixonado e prático da Comunidade até aos seus últimos dias. Grande francês e grande europeu, ficará na história como um dos construtores da nossa Europa”, escreveu na rede social X.